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Júlio Bressane exibe em Veneza Dias de Nietzsche em Turim

Terça, 04 de setembro de 2001, 13h04

Filme traz retrato da temporada que o filósofo alemão Friedrich Nietzsche passou em Turim
Como um canto à estética, o cineasta brasileiro Júlio Bressane apresentou esta terça-feira, no Festival de Veneza, um delicado retrato da temporada que o filósofo alemão Friedrich Nietzsche passou em Turim, norte da Itália, pouco antes de enlouquecer e se calar por longos anos. O filme Dias de Nietzsche em Turim conserva o estilo rigoroso do cineasta e é o fruto de uma pesquisa de quatro anos, na qual se reconstitui detalhadamente os meses vividos na cidade italiana pelo filósofo (entre abril de 1888 e janeiro de 1889).

Bressane, que já apresentou em Veneza (em 1997) a obra Miramar e, em 1999, São Jerônimo, e a quem o Festival de Cinema de Turim dedicará uma retrospectiva em novembro próximo, apresenta uma de suas obras mais bonitas, com cenas que são verdadeiras pinturas da cidade onde o filósofo escreveu Ecce Homo e O Anticristo.

Rodado praticamente todo em Turim, com rápidas e detalhadas descrições feitas pelo escritor, que anotava tudo em um caderninho, o filme consegue narrar de forma delicada a vida de um personagem complexo, que atravessa um momento transcedental, de enorme criatividade. "Utilizei o jogo de perspectivas para traduzir o pensamento e os escritos de Nietzsche", assegurou Bressane, falando à imprensa.

Aplaudido pelo público, elogiado por seu trabalho, Bressane admitiu que os textos de Nietzsche em português "talvez percam em força", mas ainda o emocionam.

O filósofo alemão, que em Turim se impregnou a arte respirada pela cidade e questionou a relação com seu grande amigo Richar Wagner, conseguiu momentos de felicidade, apesar da agonia que pesava sobre sua existência. "Para o grande criador, estes dias representam a fertilidade e o paradoxo de sua evolução espiritual", explica o cineasta brasileiro, enfatizando que Nietzsche escreveu seus melhores textos justamente nessa cidade.

O filme descreve, sempre com elegância e austeriade, o famoso beijo no cavalo, episódio que marca o início de sua loucura, e como vai perdendo o uso da razão, o que corresponde à última semana vivida pelo escritor em Turim. O filósofo, já quase louco, foi levado para Weimar, onde viveu onze anos, até 1900, sem que voltasse a falar.
"Milhares de textos foram elaborados sobre a loucura de Nietzsche, um homem com uma formação e sensibilidade únicas, um gênio da literatura, poeta e músico", comenta Bressane, que não teme abordar um personagem que não tem a menor relação com o Brasil.

"Os textos de Nietzsche chegaram ao Brasil em 1894. Eu entendo a realidade como um todo. O que vem do Brasil, Nova York ou Tóquio, para mim, faz parte de um todo", comentou o cineasta, fundador da casa de produção Belair, que apresentou seu filme na seção Novos Territórios.

AFP

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