David Mamet, que está em Veneza para apresentar seu último filme, Heist, estrelado por Gene Hackman, não gosta do estilo hollywoodiano leve ou cômico. "Gosto do 'noir' porque é violento e irônico, não como os policiais, que são violentos e sentimentais", disse o dramaturgo, escritor e roteirista norte-americano.
Heist, que está sendo exibido fora da competição em Veneza, conta a história de um velho ladrão de jóias (Hackman) que está prestes a abandonar sua atividade, mas decide dar um último golpe, roubando barras de ouro de um avião.
"É o amor pelo ouro que faz o mundo girar", diz o personagem de Hackman, Joe, que, no final, tem que escolher entre sua mulher e as barras douradas. Ele opta pelo ouro.
Para Mamet, que vê os filmes A Morte Passou por Perto e O Grande Golpe, de Stanley Kubrick, como importantes influências "noir", a escolha faz sentido.
"A idéia de que o crime não compensa surgiu nos filmes antigos a partir dos anos 1930. Hoje, porém, estamos nos dando conta de que ele compensa, sim, e como! Meu herói acaba por escolher o ouro, mesmo perdendo outra coisa", disse o diretor de 53 anos ao jornal Il Gazzetino, de Veneza, na terça-feira.
Apesar de ser autor dos roteiros de grandes sucessos de Hollywood como Mera Coincidência e Hannibal, Mamet se sente à vontade em Veneza, que se orgulha de seu estilo artístico, distante do comercial hollywoodiano.
Os filmes concebidos e escritos por Mamet raramente se encaixam em qualquer molde pronto de Hollywood. Os diálogos são tão intensos e inteligentes quanto os de suas peças de teatro, e os personagens se envolvem em tramas complexas, como a de A Trapaça, de 1997.
Antigo roteirista do seriado policial Hill Street Blues e autor premiado com o Pulitzer de O Sucesso a Qualquer Preço, David Mamet toma especial cuidado com o ritmo da linguagem usada em suas obras. Sabe-se que já houve casos em que usou um metrônomo nos ensaios para ajudar os atores a acertar o ritmo.