Com uma bela e bem realizada lição de democracia, o filme iraniano O Voto Secreto, de Babak Payami, comoveu o espectador da Mostra por sua universalidade, já que a história poderia ocorrer tanto em lugares perdidos do Irã quanto em paisagens esquecidas da Amérca Latina. O filme, que compete pelo Leão de Ouro, confirma o bom estado de saúde do cinema iraniano, que no ano passado venceu o ambicionado prêmio veneziano com O Círculo, de Jafar Panahi, sobre a condição da mulher na sociedade muçulmana.
Recebido com calorosos aplausos por parte da imprensa especializada, ao final de sua projeção, a história narra através de situações cômicas e absurdas a jornada de uma mulher obstinada, designada responsável por uma seção eleitoral durante as eleições israelenses.
Inspirado em uma cena do filme de outro mestre da cinematografia iraniana Mohsen Mahkmalbaf, Portas da Democracia, em que uma mulher é jogada de pára-quedas no mar para recolher uma urna eleitoral, o filme resulta em uma representação surrealista e satírica de um tema sócio-político.
"Não quis fazer um filme sobre o sistema eleitoral iraniano. Quis fazer um filme sobre as eleições em um local longe e indefinido, cheio de contradições", assegurou o diretor, que morou no Canadá em meados dos anos 80.
Payami, de 35 anos, que compete em Veneza com seu segundo longa-metragem, rodou seu filme na ilha de Kish, no Golfo Pérsico.
Protagonizado por atores amadores, o filme, que aborda temas como a condição da mulher, a relação entre o homem e a mulher, assim como o caminho para se obter mudanças, foi produzido, entre outros, pela italiana Fábrica Cinema, o centro de pesquisas para a comunicação do grupo têxtil Benetton.