O novo filme de Walter Salles, Abril Despedaçado, concorrente ao Leão de Ouro do Festival de Veneza, está motivando muita polêmica na imprensa italiana. Depois das duas primeiras exibições, os jornais italianos trouxeram suas primeiras críticas. Muitas são ácidas e desvalorizam o trabalho do diretor brasileiro, mas outras elogiam suas qualidades e o consagram. Para o público, o filme é belíssimo.
O jornal milanês Corriere della Sera dedicou os maiores elogios ao concorrente brasileiro, a quem classificou como um dos representantes do cinema que vem de fora do "planeta Hollywood" -- ao lado do Irã, da China e da Romênia -- e de onde "nascem continuamente filmes pobres mas belos".
A crítica Giuseppina Manin declarou sua admiração especialmente pelo pequeno ator Ravi Ramos Lacerda, de 13 anos, a quem definiu como "o anti-Osment do cinema latinoamericano" -- uma referência direta ao jovem protagonista de A I. -- Inteligência Artificial, Haley Joel Osment, que veio promover no Lido as premières do novo trabalho de Steven Spielberg -- a principal estréia nos cinemas brasileiros nesta sexta-feira.
No mesmo jornal, o influente crítico Tullio Kezich, porém, resumiu num parágrafo sua aversão: "Deus vos salve de Abril Despedaçado, do brasileiro Walter Salles: fainas rústicas, fuzilamentos, vítimas inocentes, céus límpidos e redundâncias orquestrais a serviço de uma idéia do cinema demasiamente 'artística'".
Roberto Nepoti, do diário romano La Repubblica também detestou o filme. "Walter Salles realizou o pior filme desta Mostra", fustigou Nepoti, num artigo intitulado "A Estética do Belo Esfarrapado não Salva Abril Despedaçado".
Lietta Tornabuoni, do diário La Stampa, classificou Abril Despedaçado de "trágico e solene", ressaltando considerá-lo, entretanto, como "um momento de transição no trabalho do diretor, ainda que interessante e bem-feito".
O jornal de esquerda L'Unità abre seu artigo com um título engajado: "Um Che Guevara para Walter Salles", referindo-se a um dos novos projetos do diretor brasileiro, que filmará os diários de juventude do falecido líder argentino, com produção de Robert Redford e parceria do diretor italiano Ettore Scola no roteiro.
Apesar das divergências, todos concordam em destacar a simpatia, inteligência e cultura de Walter Salles. A jornalista Gabriella Gallozzi, também do L' Unità, chama o diretor de "enfant prodige" do cinema brasileiro e destaca sua fluência em idiomas em frases como esta: "...Cita Gramsci e Ésquilo, passando com facilidade do inglês ao francês e ao português".
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