O Xangô de Baker Street, de Miguel Farias Jr., baseado no romance de Jô Soares, abriu na quinta-feira, em noite de gala no Cine Odeon, o Festival do Rio BR 2001 e foi bem recebido pela platéia. Miguel Farias, aproveitando o bom-humor do romance policial de Jô Soares, tropicaliza a figura do lendário detetive Sherlock Holmes (interpretado pelo ator português Joaquim de Almeida), trazendo-o para o Brasil, em pleno Segundo Reinado, para desvendar o misterioso desaparecimento de um raro violino.
Em 1886, durante sua primeira visita ao Brasil, a atriz francesa Sarah Bernhardt encanta o imperador Dom Pedro II, que a cumprimenta pela atuação e, de quebra, lhe faz uma inconfidência: o precioso violino Stradivarius, presente para a bela viúva baronesa Maria Luiza, havia misteriosamente desaparecido.
Complacente com a aflição do monarca, a atriz sugere os serviços de Sherlock Holmes que, pouco tempo depois, aporta na cidade na companhia do inseparável amigo Dr. Watson.
Em meio às agitações políticas que precederam a Proclamação da República, em 1889, a fita une figuras históricas como Sarah Bernhardt, Dom Pedro II, Chiquinha Gonzaga e Olavo Bilac, a personagens fictícios, num cenário assolado pelas idéias abolicionistas.
Sem nenhuma pretensão que não seja o entretenimento, O Xangô de Baker Street, apesar de conter alguns clichês, como os insistentes tombos do detetive inglês, apresenta sequências bastante engraçadas e inusitadas, como o surgimento da famosa caipirinha e a introdução de Sherlock e de Watson numa cerimônia de candomblé.
A produção também é bem-cuidada e o roteiro amarra inteligentemente os momentos de suspense com as cenas de comédia.
Bons atores como os portugueses Joaquim de Almeida e Maria de Medeiros salvam algumas fracas pontas. Destaque para a singular trilha sonora assinada por Edu Lobo, que atinge o ápice em um duelo, não de espadas, mas de violinos, entre Sherlock e um membro da corte.