Preparando seu encerramento na próxima segunda-feira, em seu último final de semana antes do anúncio das premiações, o Festival do Rio BR 2001 tempera mais ainda suas atrações, colhendo alguns dos melhores filmes dos festivais de Cannes e Veneza, além do megasucesso francês O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, visto por nada menos de oito milhões de espectadores até agora naquele país, fora 1,5 milhão na Alemanha. Também são uma boa opção o brasileiro Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho, O Quarto do Filho, de Nanni Moretti, e Va Savoir, de Jacques Rivette.
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
Comédia romântica com um clima levemente surreal, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain tem na consagração do público uma vingança imprevista, mas muito bem-vinda, para o diretor Jean-Pierre Jeunet.
O co-autor de Delicatessen teve este seu filme verdadeiramente delicioso recusado pelo comitê de seleção do festival de Cannes.
As platéias, como se viu, discordaram apaixonadamente, seguindo, como legiões de devotos, os passos da graciosa novata Audrey Tautou, a Amélie Poulain da história, pelos degraus do bairro de Montmartre, em busca de um amor um tanto difícil.
O par desta verdadeira revelação como atriz é Matthieu Kassovitz (diretor de O Ódio e Rios Vermelhos), que também emplaca surpreendentemente bem como desajeitado galã romântico, deixando para trás um período não muito feliz em sua própria carreira.
Lavoura Arcaica
Nesta adaptação do romance de Raduan Nassar, o diretor Luiz Fernando Carvalho se utiliza quase que exclusivamente de planos fechados e movimentação de câmera bastante lenta para contar a história de André (Selton Mello), filho desgarrado de uma família de imigrantes libaneses do interior do país. Coube ao primogênito Pedro a missão de trazer o irmão, que mora numa velha pensão, de volta ao lar.
Através das lembranças de André, os motivos de sua fuga vão se tornando conhecidos e os severos mandamentos do pai (Raul Cortez) emergem como a principal causa. Mas a questão central da trama é outra: a relação incestuosa do rapaz com a bela irmã Ana.
Carvalho, que dirigiu as novelas Renascer e O Rei do Gado, além da minissérie Os Maias, usa como recurso dramático imagens desfocadas para ofuscar também os sentimentos mais reprimidos dos personagens. No entanto, as imagens são um mero apoio às palavras, de uma importância fundamental para a compreensão da trama.
O Quarto do Filho
Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano, o novo filme de Nanni Moretti marca uma mudança de estilo no trabalho do diretor italiano, desta vez com uma história não-autobiográfica -- e que já lhe valeu, na Itália, a acusação de plágio de um livro.
Moretti interpreta Giovanni Sermonti, um psicanalista que vê sua vida familiar ruir fragorosamente depois da morte acidental do filho, o jovem Andrea (Giuseppe Sanfelice). Desta vez, o humor e os comentários irônicos do diretor ficaram de fora da história, exceto no começo, quando ele traça, detalhe a detalhe, o retrato de uma família feliz, completada pela mulher Paola (Laura Morante) e outra filha, Irene (Jasmine Trinca).
Va Savoir
Dirigido pelo veterano francês da Nouvelle Vague, Jacques Rivette, o filme começa com uma encenação da peça Come Tu Mi Vuoi, de Luigi Pirandello. Há uma certa estranheza, porque a peça, interpretada em italiano, acontece num teatro em Paris, com um elenco misto de franceses e italianos e relações humanas das mais dúbias dentro e fora do palco.
A atriz principal é a francesa Camille (Jeanne Balibar), que vive um conflito de identidade e amor, tanto na vida como na arte. Está envolvida com seu co-protagonista e diretor da companhia, o italiano Ugo (Sergio Castellito, de Concorrência Desleal). Mas não sossega enquanto não reencontra um antigo amor, o professor de filosofia Pierre (Jacques Bonnaffe), que agora está casado com uma professora de balé, Sonia (Marianne Basler).