Pela primeira vez em seus 25 anos de história, a Mostra Internacional de Cinema será aberta por um show musical. Vai ser no próximo dia 17 de outubro, quando o diretor iugoslavo Emir Kusturica, duas vezes vencedor da Palma de Ouro em Cannes, se apresentará tocando seu baixo liderando desta vez sua banda de rock cigano, a The No-Smoking Orchestra, que tem 14 integrantes. A novidade foi anunciada no sábado pelos organizadores do mais tradicional evento cinematográfico da cidade. O show, marcado para o Direct TV Music Hall, será reservado apenas a convidados. Mas, no dia 18, a mesma programação se repete, desta vez, com a distribuição de ingressos gratuitos.
Além do show, a cidade de São Paulo ganhará três novas salas de cinema para o circuito de arte, com a reabertura do espaço do ex-cineclube Vitrine, agora Cineclube Direct TV.
As três salas ficam incorporadas ao circuito que exibe este ano a programação da Mostra e que integra, também, o Espaço Unibanco de Cinema, o Cinearte, o CineSesc, a sala UOL, a Cinemateca, o Cinemark Market Place e o Frei Caneca Unibanco Arteplex.
Pela primeira vez na história da Mostra, ficou de fora o MASP (Museu de Arte de São Paulo), local onde o evento nasceu, em 1977. O motivo desta ruptura, segundo Leon Cakoff, diretor da Mostra, foi o "calote" da direção daquele museu em relação ao reembolso de bilheterias e ao reparo de um projetor no ano passado.
Em função da assinatura de um contrato de três anos com um novo patrocinador, a BR Distribuidora, a mostra muda de nome. Assim, sua denominação oficial passa a ser Mostra BR de Cinema -- Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O orçamento deste ano foi estimado em R$ 1, 6 milhão.
150 filmes e 3 retrospectivas
Serão exibidos nesta edição cerca de 150 filmes. Na programação, haverá três grandes retrospectivas. A primeira, do cineasta Emir Kusturica, que exibirá seu novo filme, Memórias em Super-8, além de trabalhos mais antigos mas ainda inéditos no Brasil.
Este é o caso, por exemplo, de As Noivas Estão Chegando, seu primeiro longa-metragem, Bar Titânico -- uma produção para a TV -, além de versões mais longas de títulos já exibidos por aqui, como Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios (que será visto em sua versão original, uma minissérie para a TV com três horas de duração) e Vida Cigana (na edição pioneira para TV, com cinco horas).
Outra retrospectiva trará ao Brasil outras raridades, oito filmes do diretor italiano Valerio Zurlini, um dos maiores nomes do cinema daquele país dos anos 50 e 60. Entre os títulos, Dois Destinos (1962) e Sentado à Sua Direita (1968).
O cineasta indiano Buddhadeb Dasgupta, que venceu no Festival de Veneza/2000 o prêmio de melhor diretor por Lutadores, será o homenageado com a terceira retrospectiva, além de fazer parte do júri. Outros jurados serão o diretor argentino Fernando Solanas, o ator e diretor polonês Jerzy Stuhr, o músico chileno Jorge Arraigada e a cenógrafa e cineasta brasileira Daniela Thomas.
Entre os trabalhos de novos diretores, destacam-se Italiano para Principiantes, primeiro filme do Dogma 95 assinado por uma mulher, a diretora Lone Scherrfig, Terra de Ninguém, do bósnio Danis Tanovic -- vencedor do troféu de melhor roteiro em Cannes este ano -, A Compensação, filme do Sri Lanka assinado pelo cineasta Bennett Rathnayake, e Echo, do canadense Gian d'Ornellas, este um trabalho que aborda um atentado terrorista no metrô de Paris e que terá sua estréia internacional no festival de São Paulo.
Fazendo um balanço destes 25 anos da Mostra, Cakoff destacou o que considera a prova da vitalidade do evento: a expressiva renovação de seu novo público, ou seja, espectadores que vêm às suas sessões pela primeira vez. No ano passado, esses novos espectadores somaram 15,5% do total das platéias. Para o diretor da Mostra, esta é uma prova de que sua programação "mantém um leque aberto, um espírito desarmado, sempre chamando as pessoas a descobrir novas coisas".