Sem a complexidade, o lirismo e a ambiguidade moral do premiado O Doce Amanhã, um marco artístico na carreira de Atom Egoyan, seu novo filme, O Fio da Inocência, em exibição na 25ª Mostra BR de Cinema, fica longe do excepcional. Protagonizado pelo discreto Bob Hoskins e pela promissora Elaine Cassidy, este drama psicológico intrigante gira em torno do encontro fatídico entre uma adolescente ingênua e um serial killer, que vai transformar a vida de ambos.
Embora seja baseado num romance de William Trevor, O Fio da Inocência é um filme muito pessoal. Todos os temas recorrentes de Egoyan estão presentes nele -- o impacto da tecnologia na vida cotidiana, a alienação e o deslocamento, e o significado da intimidade nas relações pessoais. Mas sem estarem tão bem integrados ao texto quanto em seus trabalhos anteriores.
Joseph Ambrose Hilditch (Hoskins) é um gerente de catering de meia-idade que vive numa casa grande e atulhada em Birmingham, Inglaterra, onde passa o tempo assistindo ao vídeo de um programa de culinária na TV, enquanto prepara refeições complicadas para comer sozinho.
As cenas de sua rotina são entremeadas com outras mostrando a jovem e bela Felicia (Cassidy) vinda da Irlanda para a Inglaterra numa balsa para procurar Johnny (Peter McDonald), por quem está apaixonada.
Johnny partiu para a Inglaterra sem deixar endereço. Armada apenas com o nome da cidade para onde ele foi e um lenço em que carrega seu dinheiro, Felicia é uma personagem típica de Egoyan, uma figura solitária e deslocada que enfrenta um ambiente frio e hostil.
O primeiro encontro entre Felicia e Hilditch acontece já no início da história, quando ele lhe recomenda um lugar para se hospedar e oferece ajuda para localizar Johnny.
A tensão e o medo são intensificados num take fantástico em que Hilditch observa Felicia andando pelo espelho retrovisor de seu carro.