A urna corre atrás do eleitor em O Voto é Secreto, num cenário que lembra muito o nordeste brasileiro. O filme, que passa nesta segunda-feira na 25ª Mostra BR de Cinema, é o segundo trabalho do iraniano Babak Payami, ainda desconhecido no circuito internacional, mas que promete não permanecer assim por muito tempo.
Seu trabalho chega com a chancela da Fabrica, o braço produtor de cultura da poderosa confecção Benetton, a partir de um argumento do consagrado Mohsen Makhmalbaf, e ainda mais com fotografia do já célebre Farzad Jodat (responsável pelas belas imagens de O Balão Branco e O Espelho, de Jafar Panahi).
A protagonista é uma jovem agente eleitoral que deve levar uma urna a um grupo de eleitores dispersos numa região litorânea, num dia de eleição.
Incumbido de acompanhá-la, um soldado armado de fuzil simboliza a velha ordem ortodoxa e militarista que, no Irã, ainda enxerga com desconfiança os novos tempos - representados por maior abertura e participação política num contexto em que mulheres, como a jovem funcionária eleitoral, desempenham papéis sociais de maior relevância fora de casa e são capazes de dar ordens.
Este confronto entre os dois personagens é conduzido, entretanto, com bastante leveza - e não faltam lições de senso comum e da ancestral sabedoria camponesa por parte do soldado à jovem urbana e escolarizada.
Se há uma moral por trás desta história singela e saborosa, é que a nova ordem no velho Irã nascerá de uma conciliação entre todas as visões de mundo. Nada que não se aplique a qualquer outra parte do planeta.