O diretor francês Jean-Jacques Beineix revisita o encanto perverso de alguns de seus trabalhos anteriores, e retoma a parceria com o ator Jean-Hughes Anglade para contar uma história policial sobre psiquiatras que perdem o limite entre delírio e realidade no filme Transferência Mortal, exibido na 25ª Mostra BR de Cinema. Anglade é um analista que anda muito cansado das conversas de seus pacientes. Seu tédio não passa despercebido a uma delas, uma jovem e estonteante milionária (Helène de Fougerolles).
Casada com um gângster, ela vive com o marido um relacionamento marcado pelo sadomasoquismo. Não raro, a moça exibe no corpo as provas vivas dos episódios apavorantes que relata ao distraído médico - que ela tenta em vão seduzir.
A indiferença acaba cobrando um preço alto ao psicanalista. Durante uma sessão, ele cai no sono e, quando desperta, encontra sua bela paciente assassinada no divã.
Ele próprio tem dúvidas se foi ele mesmo quem a matou. Mas, fiel ao instinto de sobrevivência, tentará por todos os meios livrar-se do cadáver.
Uma tarefa que se provará tremendamente difícil, já que no caminho estão um vagabundo muito atento e um profanador de túmulos.
Equilibrando sua narrativa em personagens e situações no limite do absurdo e do humor negro, Beineix (de Betty Blue e A Lua na Sarjeta) cria um filme envolvente, em especial para quem gosta do gênero.
Mergulho num país primitivo
O indiano Lutadores, de Buddhadeb Dasgupta, é um mergulho num país primitivo, repleto de exotismos como uma ilha onde só moram anões.
Os protagonistas, entretanto, são dois amigos que, vigias de uma ferrovia onde quase não passa trem algum, matam o tempo numa luta corporal que lembra o huca-huca dos indígenas brasileiros.
O elemento dissonante nessa pasmaceira rural é a bela Uttara, que chega para desposar um dos vigias ferroviários, rompendo o equilíbrio da amizade entre os dois homens.
O filme tem um leve toque feminista, colocando em Uttara a única personagem que sonha em sair daquela vida imutável, de pequenas coisas, de pessoas quase-nada.
O diretor Buddhadeb Dasgupta, que participa do júri do festival paulistano, ganhou com Lutadores um prêmio especial de direção no Festival de Veneza/2000. Sete de seus filmes estão sendo exibidos numa retrospectiva especial nesta 25ª Mostra.