Durante a Segunda Guerra Mundial, o Japão lutava também contra a China. As atrocidades cometidas pelo então existente Exército Imperial Japonês ficaram pendentes para sempre entre os dois países - que permaneceram por 30 anos com relações diplomáticas rompidas, até 1972. Por todos os traumas envolvidos, poucos filmes foram feitos a respeito do tema polêmico, que virou um tabu entre os dois povos. Mas foi justamente neste vespeiro que resolveu mexer o veterano diretor japonês Shinichi Nakada, de 57 anos, realizando o drama Chen Bao, apresentado na 25ª Mostra BR de Cinema.
Na história, ambientada em 1945, um velho soldado japonês (Takahiro Tamura) decide voltar à China em busca de dois chineses que conheceu ainda crianças na época da guerra, e que lutavam desesperadamente para salvar seu bezerrinho prestes a virar ração para a tropa japonesa, já em plena derrocada.
Segundo o cineasta japonês, a reaproximação cultural entre os dois países foi impulsionada pelo cinema através da produção conjunta de filmes. Assim, o Japão entrava com o orçamento das produções, elenco, diretores e roteiristas, adaptando romances escritos em japonês.
"Mas, repetindo de certa forma o background da Segunda Guerra, os chineses ficavam novamente em segundo plano e só entravam com os assistentes:, disse Nakada à reportagem.
"Eles mesmos começaram a ficar insatisfeitos e se revoltaram. Alguns desses assistentes chineses tornaram-se grandes diretores", contou o diretor.
Em Chen Bao isso não ocorreu, pois a co-produção foi igualitária. "As duas equipes concordaram que não faríamos nem um filme de amor, nem de terror. Elegeríamos um tema que fosse doloroso para os dois lados, mas que não pudesse ser evitado", explicou o cineasta.
O roteiro foi escrito por um ex-soldado japonês que lutou na guerra contra a China e resolveu contar tudo o que viu nos campos de batalha. A história contém situações verídicas.
O filme, que ainda não estreou na China mas está em cartaz no Japão, tem recebido críticas negativas de ambos os lados.
"Alguns japoneses perguntaram se era preciso mostrar aquelas atrocidades. Já os chineses disseram que os japoneses fizeram coisas muito piores", revelou o diretor.
Nakada disse que fez o filme pensando nas gerações mais jovens. "Queria que as crianças dos dois países o assistissem e o entendessem. Acho que os públicos chinês e japonês podem chegar ao mesmo resultado que as nossas equipes de produção: uma conciliação."