As Paredes do Chelsea Hotel falam muito, mas têm pouco a dizer. A estréia do ator Ethan Hawke na direção de um longa-metragem traz uma série de atores de nome atuando em cenas de pouco efeito, numa história enfadonha sobre poetas e artistas contemporâneos esperançosos de que alguma coisa do talento dos célebres hóspedes passados do famoso hotel nova-iorquino passe para eles por osmose. Em 1993, Hawke já tinha feito um curta, Straight to One, sobre um casal que vivia no Chelsea. Desta vez, ele retorna ao mesmo local com um roteiro de Nicole Burdette, co-fundadora da companhia de teatro Naked Angels, baseado em sua peça de mesmo nome, de 1986.
A sensação que o roteiro transmite é de algo imaturo e superficial, baseado em idéias juvenis e romantizadas sobre o estilo de vida artístico e boêmio, sem o respaldo de qualquer evidência de talento artístico, criatividade pessoal ou impulsos alternativos reais.
A história impressionista se passa quase inteiramente dentro do próprio hotel. Embora já tenha visto dias melhores, grande parte do charme da casa se deve ao fato de que nada ali mudou em décadas, conferindo ao local um clima atemporal intensificado pelo fato de que nenhum dos personagens é equipado com objetos tão mundanos quanto computador ou celular.
Os poetas ainda rabiscam seus poemas em papel, músicos continuam a dedilhar seus violões até altas horas da noite, as telas dos pintores dominam apartamentos inteiros e os escritores bebem até a madrugada, em busca de inspiração.
É duvidoso que algum dos personagens tenha talento suficiente para ser ocupante digno dos cômodos já habitados por Dylan Thomas, Mark Twain, Thomas Wolfe, Tennessee Williams, Arthur Miller, Brendan Behan, Bob Dylan, Jimi Hendrix e Sid Vicious. O que fica claro é que suas vidas pessoais são sufocadas.
A insegura poetisa e garçonete Grace (Uma Thurman), cujo namorado se mandou para Hollywood, está interessada no pintor Frank (Vincent D'Onofrio), mas ele é tímido demais para se manifestar.
O escritor envelhecido Bud (Kris Kristofferson) luta contra o alcoolismo, seu manuscrito inacabado e as lindas mulheres em sua vida, sua esposa Greta (Tuesday Weld) e a amante Mary (Natasha Richardson).
Os músicos recém-chegados a Nova York, Terry (Robert Sean Leonard) e Ross (Steve Zahn), enfrentam à sua maneira o estilo de vida e as mulheres disponíveis que encontram assim que chegam ao hotel.
Parte da história é justamente essa: que os personagens procuram viver da "energia" presente no hotel, aproveitando-se, por assim dizer, de seus fantasmas. Mas seus esforços não ganham vida própria, e o drama é insosso.
As Paredes do Chelsea Hotel está em cartaz na 25ª Mostra BR de Cinema, em São Paulo.