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25ª Mostra: O Caminho para Kandahar dá voz às mulheres afegãs

Segunda, 29 de outubro de 2001, 19h05

O tema Afeganistão está na ordem do dia da 25 Mostra BR de Cinema. Nesta segunda-feira serão realizadas duas sessões do filme O Caminho para Kandahar, do iraniano Mohsen Makhmalbaf, e o lançamento do livro O Afeganistão, escrito pelo próprio diretor e ilustrado com fotos feitas por sua filha, a também cineasta Samira Majhmalbaf.

Em seu filme, o cineasta mostra o pesadelo das mulheres afegãs sob o jugo obscurantista da milícia Talibã. Partindo de uma história real, o cineasta criou um enredo que mistura o drama das mulheres com o dilema dos inúmeros mutilados de guerra e a total falta de perspectivas econômicas para a maioria da população do Afeganistão. O filme foi feito antes da guerra com os Estados Unidos.

As mulheres afegãs são hoje proibidas de ir à escola e trabalhar, obrigadas a cobrir-se da cabeça aos pés por um pesado traje, a "burka".

A protagonista é Nafas (Niloufar Pazira), uma jornalista afegã exilada no Canadá que recebe uma carta desesperada da irmã caçula, anunciando seu suicídio para o próximo eclipse diante da total ausência de esperança de seu cotidiano.

Além do sufocamento imposto pelos fanáticos fundamentalistas às mulheres afegãs, a menina já vive o drama de ter perdido as duas pernas, atingidas por uma mina oculta numa boneca, monstruoso recurso usado por soldados da região.

O calvário de Nafas para chegar a tempo e impedir a morte da irmã é desenhado por imagens de raro impacto - como a "chuva" de pernas artificiais lançadas de helicóptero pela Cruz Vermelha, disputadas por uma multidão de mutilados ansiosos.

O exame à distância - em que o médico (Tabib Sahib) avalia suas clientes através de um biombo de pano, onde um pequeno buraco no centro não permite ver mais do que sua boca, é outra sequência que fica na memória.

Da mesma forma, um cortejo de casamento mostra uma multidão de mulheres na paisagem do deserto em que a beleza das cores das "burkas" não oculta a ambiguidade de uma situação na qual uma não vê o rosto da outra e, portanto, quem está ao lado pode ser um inimigo em potencial, ainda mais no caso da jornalista, que viaja clandestinamente e com um gravador oculto nas vestes.

Se a esperança para a mulher afegã, como diz um diálogo, é um dia ser vista, o filme do iraniano Makhmalbaf contribui e muito para levantar o véu do silêncio contra uma opressão com a qual o Ocidente tem sido omisso.

Neusa Barbosa/ Reuters

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