Uma das mais recentes revelações do cinema do leste europeu, Aktan Abdykalykov exibe nesta segunda, na 25ª Mostra BR de Cinema, sua trilogia de fundo autobiográfico: O Balanço (1993), vencedor de prêmios nos festivais de Locarno e Potsdam, O Filho Adotivo (1998), o único já lançado comercialmente no Brasil, e O Chimpanzé (2001). Aos 44 anos, este ex-pintor, assistente de cenografia e direção de arte, vem se firmando como um criador de imagens excepcionais, capazes de fixar-se por muito tempo na memória dos espectadores, bem como iluminar temas que preocupam tanto os camponeses do Quirguistão, seu país natal, uma ex-república soviética, quanto pessoas comuns de qualquer parte do mundo.
Tendo como ator principal o próprio filho do diretor, Mirlan Abdykalykov, a trilogia aborda três momentos na vida de um menino: a infância em O Balanço, a adolescência em O Filho Adotivo e a juventude em O Chimpanzé.
O Balanço
Neste média-metragem de 1993, o primeiro filme da série, um garoto vive numa aldeia do Quirguistão, onde passa o tempo na companhia de um adulto com problemas mentais e de uma jovem que se diverte no balanço empurrado pelos dois amigos.
A câmera de Abdykalykov acompanha o doce movimento do balanço e a textura das árvores em volta, com seus troncos fortes, pintados de branco, e suas grossas raízes espalhadas como longos dedos. As imagens são lentas, sem diálogos, apenas com o ruído ambiente.
Uma concha passa de mão em mão entre crianças e velhos e todos se divertem e imaginam ouvir o barulho do mar.
A chegada de um marinheiro, que se aproxima da jovem, muda o humor do menino, que passa a ver no adulto um inimigo.
O Filho Adotivo
É costume, nesta remota república asiática, as famílias numerosas doarem um dos bebês a casais sem filhos. Avate é uma dessas crianças, mas chega à adolescência ignorando ser um filho adotivo.
Os dias transcorrem, entre uma brincadeira e outra, sem grandes conflitos para Avate, mesmo tendo de conviver com um pai rigoroso e uma mãe ocupadíssima com tarefas cotidianas.
Esta vida tranq ila está prestes a mudar. As transformações começam quando o menino se apaixona por Aynura, a menina que também é alvo das atenções do melhor amigo de Avate. Durante uma brincadeira, o amigo enciumado inicia uma briga e revela que Avate é adotado
O mundo desaba para o garoto que, em desespero, foge de casa. Seu retorno é traumático, pois quando é encontrado recebe a notícia de que a avó está à beira da morte. Mas é no meio do sofrimento que Avate irá resgatar alguns valores que pensava ter perdido, como retomar a velha amizade, ao mesmo tempo que recebe uma acolhida afetuosa do pai.
O Chimpanzé
Enquanto espera a chamada para servir ao Exército, um rapaz de 17 anos passa o tempo numa remota cidadezinha do Quirguistão. Sua vida familiar é complicada, devido ao incurável alcoolismo do pai, que cria sérios problemas de relacionamento com a mãe.
Fora de casa, o rapaz, apelidado de Chimpanzé, por causa de suas grandes orelhas, vive as incertezas do desejo e a procura pelo primeiro amor e a iniciação sexual. Seus amigos são rapazes de mesma idade, todos prestes a embarcar num trem que os levará para o quartel. Será o início da vida adulta.
Enquanto esse dia não chega, eles se divertem na aldeia dançando com as moças de sua idade e brigando com uma gangue rival.
O roteiro, escrito pelo diretor em parceria com o veterano Tonino Guerra, mantém em certos momentos o clima de uma história felliniana, com alguns personagens caricatos e saborosos, como os trabalhadores que fazem a manutenção dos trilhos da ferrovia ou uma jovem gordinha que representa o sonho erótico dos jovens da aldeia.