A jornalista e atriz afegã Niloufar Pazira, protagonista do filme O Caminho de Kandahar, disse ser favorável à criação de uma força internacional de paz, sem a presença de norte-americanos ou ingleses, para negociar com todos os grupos afegãos um desarmamento e encontrar uma saída para a atual guerra com os Estados Unidos. Niloufar encontra-se em São Paulo especialmente para o lançamento do filme de Mohsen Makhmalbaf na 25ª Mostra BR de Cinema, e de um livro do cineasta iraniano intitulado O Afeganistão.
O livro, que será vendido a partir de terça-feira, terá sua renda revertida para a criação de escolas para as crianças afegãs refugiadas no Irã.
Para chegar a São Paulo, a jornalista passou uma epopéia quase tão tumultuada quanto a de sua personagem no filme.
Nascida na Índia, de pais afegãos, Niloufar tem passaporte canadense, pois reside desde 1989 no país.
Como o Brasil exige o visto de entrada para cidadãos canadenses e Niloufar, que se encontrava no festival de Valladolid, na Espanha, não o tinha, sua entrada no Brasil exigiu uma verdadeira operação diplomática da direção da Mostra.
Desde sexta-feira, o diretor do festival, Leon Cakoff, realizou diversas gestões junto a órgãos tão distintos quanto o Itamarati, a Polícia Federal, a Secretaria de Relações Internacionais do Ministério da Saúde e a Varig para conseguir a vinda da protagonista do filme.
Ela entrou no país sem visto nesta segunda-feira pela manhã, proveniente de Madri, com uma permissão especial de permanência de 24 horas.
O filme O Caminho de Kandahar é na verdade um quase-documentário, já que relata com poucas modificações a epopéia real da jornalista para reencontrar uma amiga que não conseguiu sair do Afeganistão, e que se encontrava bastante deprimida com as restrições impostas às mulheres sob o regime do Taliban.
Há cerca de um ano, Niloufar não tem notícias da amiga, com quem mantinha contato por cartas. Em 1998, a própria Niloufar tentou fazer, sem sucesso, uma viagem semelhante à da protagonista do filme.
Então, ela tomou a iniciativa de procurar o cineasta iraniano, que já fizera antes um filme sobre uma família afegã, O Ciclista.
"Mas foi dele a idéia de me tornar protagonista. Nunca pensei em ser atriz e creio que não o sou. A história do filme é minha história pessoal", disse Niloufar à reportagem.
Para ela, a situação do Afeganistão sempre foi de extrema pobreza e a discriminação contra as mulheres não começou com a instalação do regime Taliban.
"Antes de eles chegarem ao poder, 95 por cento das mulheres não iam à escola. Depois disso, a proporção apenas aumentou para 100 por cento", destacou.