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Festival de Brasília tem poucos inéditos e disputa acirrada

Terça, 27 de novembro de 2001, 20h18

Dos seis longas-metragens em competição no 34 Festival de Brasília de Cinema Brasileiro, apenas três podem ser considerados inéditos: O Invasor, de Beto Brant, Uma Vida em Segredo, de Suzana Amaral, e Samba Riachão, documentário de Jorge Alfredo Guimarães.

Os demais já passaram em outras mostras competitivas este ano, como Lavoura Arcaica, forte candidato aos prêmios principais do evento.

Dos três inéditos, os mais aguardados eram os filmes de Beto Brant e Suzana Amaral, cujas cópias foram exibidas pela primeira vez em Brasília.

A expectativa quanto à estréia do filme de Suzana Amaral se apoiava não só no ineditismo, como na longa ausência da diretora das telas desde sua estréia de impacto em 1985, com A Hora da Estrela - que, aliás, permanece até hoje como o filme mais premiado da história deste festival, acumulando 12 troféus, incluindo os de melhor filme, direção, ator (José Dumont) e atriz (Marcélia Cartaxo, vencedora também de um Urso de Prata de interpretação no Festival de Berlim daquele ano).

Em Uma Vida em Segredo, Suzana adaptou um romance de Autran Dourado que conta a trajetória de Biela (Sabrina Greve), uma moça interiorana que fica órfã e herda muitas terras.

A partir daí, é apadrinhada por parentes com mais traquejo social e vai viver na casa deles. Entra em contato com um mundo completamente diverso, regido por mecanismos inteiramente estranhos, mas luta para permanecer fiel à sua própria maneira de ver as coisas - e ao seu direito de dar a última palavra, por mais radical que seja sua escolha.

O filme tem uma belíssima fotografia de Lauro Escorel e direção de arte de Adrian Cooper - dois dos maiores nomes em seus setores.

O grande problema é o desenrolar dramático nos dois momentos em que a fita é dividida. No primeiro, até que funciona bem a chegada da moça caipira e arredia à casa dos primos (Cacá Amaral e Eliane Giardini).

A moça acaba ficando noiva mas o desenvolver dos acontecimentos não promete final feliz. Neste segundo tempo dramático é que o filme empaca.

Choque com O Invasor
O filme do paulista Beto Brant foi o mais forte, polêmico e bem-acabado do festival de Brasília. Em seu terceiro longa, Brant dominou como nunca todos os elementos de sua arte, demonstrando uma excepcional maturidade como diretor e um crescimento indiscutível em relação a seus dois trabalhos anteriores, Os Matadores e Ação Entre Amigos.

A platéia mal respirou durante o tenso desenrolar desta história policial, que serve como uma sombria reflexão sobre o mau estado da ética no Brasil.

O titã Paulo Miklos faz uma impressionante estréia como ator, vivendo o personagem-título, Anísio, um matador de aluguel da periferia de São Paulo que é contratado por dois sócios de uma construtora (Marco Ricca e Alexandre Borges) para matar um terceiro sócio.

O assassino executa o serviço mas decide cobrar um preço muito maior do que o combinado, instalando-se na vida da construtora e na cama da herdeira, que não sabe do complô (Mariana Ximenes), conquistando na raça seu lugar no andar de cima da sociedade.

Samba Riachão contagia a platéia
O documentário Samba Riachão, do baiano Jorge Alfredo, foi um incrível sucesso de público e crítica. No documentário, traça-se a trajetória do músico, que passou de tudo na vida, e teve de sobreviver como contínuo de um banco quando perdeu o emprego como cantor, depois do declínio da era do rádio.

Poeta popular como Cartola, suas músicas incluem "Cada Macaco no seu Galho", popularizada por Caetano Veloso. No filme são registrados depoimentos do próprio Caetano, Gilberto Gil, Dorival Caymmi, Tom Zé e Carlinhos Brown.

Além disso, o filme faz um panorama do samba na Bahia, reivindicando que o gênero musical nasceu lá, não no Rio de Janeiro. Controvérsias à parte, o filme respira uma energia enorme, afastando-se de qualquer didatismo e mostrando um profundo respeito pela figura do seu personagem central.

Foi uma espécie de revisão tupiniquim do ótimo Buena Vista Social Club, de Wim Wenders, em que o único protagonista vale por uma orquestra inteira.

Neusa Barbosa
Reuters

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