Heaven, primeira produção internacional ao estilo "americano" do cineasta alemão Tom Tykwer, inspirada em um roteiro deixado pelo diretor polonês Krzystof Kieslowski quando morreu em 1996, abriu esta quarta-feira com tímidos aplausos a 52ª edição o Festival Internacional de Cinema de Berlim.A história de uma professora de inglês, que mata involuntariamente quatro pessoas em um frustrado atentado contra um alto executivo que controla o narcotráfico no norte da Itália, foi protagonizada por Cate Blanchett e Giovanni Ribisi, e filmada em românticos cenários naturais do Piamonte e da Toscana.
"Mergulhei no roteiro como se fosse meu", afirmou o diretor na coletiva depois da exibição para a imprensa. "Tinha a forte impressão de que estava relacionado com temas que eu abordara até agora em meus filmes, embora de uma maneira para mim desconhecida. Esse era o desafio que eu queria assumir", acrescentou.
A casualidade parece ser a grande aliada de Tykwer, que filmou já cinco longas, entre eles Corra Lola, Corra (1998), com grande sucesso de bilheteria na Alemanha e parcialmente nos Estados Unidos.
Nascido em 1965 na cidade industrial de Wuppertal (na bacia do Ruhr), Tykwer, um visionário do novo cinema alemão e um apaixonado admirador dos filmes de terror e de King Kong, rodou aos 11 anos "remakes" de suas fitas preferidas com uma câmara Super 8.
Recusado como aluno em diversas escolas de cinema da Alemanha, o diretor autodidata se radicou em Berlim, mais exatamente no distrito de Kreuzberg, o de maior densidade de artistas e imigrantes estrangeiros entre os 3 milhões de habitantes da capital alemã, para desenvolver a programação de um grupo de apaixonados por cinema denominado "Movimento", e fundar a empresa produtora X-Filme Creative Pool.
A casualidade impede, por exemplo, de saber de antemão o final de cada um dos filmes de Tykwer. O espectador fica com a impressão de que o começo do filme foi também uma casualidade, mesmo quando ocorre uma catástrofe como em Heaven, distribuído pela americana Miramax.
Os personagens de seus filmes parecem se ver forçados e depois redimidos pelo destino; um paradoxo no qual somente parece acreditar um romântico como o diretor alemão.
São esses detalhes supostamente intranscendentes que revelam a essência teológica da obra de Tykwer e os que parecem mediar nessa ambivalência que mostra sua concepção de vida. Embora se sinta submerso em um mundo ateísta, não pode ocultar os efeitos de "uma mão invisível e mágica que o dirige" e que ajuda suas criaturas a darem uma virada em seu destino e encontrarem uma saída no beco sem saída em que se acham.
"Estou numa permanente busca de um contexto formal que me ajude a tirar minhas idéias do isolamento privado", afirmou Tykwer. Em Corra Lola, Corra o cineasta levou à sua máxima expressão esse formalismo e por essa razão desde então não pararam de chover sobre sua mesa de trabalho roteiros enviados por estúdios cinematográficos americanos.