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Documentário sobre secretária de Hitler causa expectativa em Berlim

Segunda, 11 de fevereiro de 2002, 17h53

Um documentário austríaco sobre Traudl Junge, a última secretária de Adolf Hitler, com o título Im toten Winkel (Em ângulo morto), foi apresentado hoje, domingo, na sessão Panorama do Festival de Cinema de Berlim em meio a uma grande expectativa do público alemão.

O filme já estreou na Áustria, mas sua apresentação no Festival de Berlim adquiriu uma particular importância pois, como comentou em uma declaração André Heller, co-diretor do filme, o local onde Hitler morreu e onde Junge trabalhava fica a apenas 150 metros das salas onde o evento é realizado.

A apresentação, em Berlim, acontece também em um momento particularmente dramático, pois, segundo explicou Heller, a protagonista do documentário está em estado terminal de câncer e pode morrer nas próximas horas.

Junge trabalhou para o ditador nazista em 1942 e cumpriu tarefas como a redação de seu testamento, pouco antes dele se suicidar em seu bunker de Berlim, quando os alemães deram a guerra como perdida.

A capacidade de observação de Junge é enorme, já que através do que conta oferece uma imagem de Hitler que não é monstruosa mas que o "apequena", pois o apresenta como "um pequeno burguês, quase idiota e banal em sua maldade".

Heller e o outro co-diretor, Othmar Schmieder, entraram em contato com Junge através de uma escritora que fez um livro sobre ela, sem saber que a mesma estava doente de câncer, algo que não é registrado no filme.

Heller e Schmieder filmaram dez horas de conversas com Junge, sendo que uma hora e meia estão no filme, e pensam em colocar o resto à disposição dos historiadores. No início, analisaram a idéia de publicar a totalidade da entrevista na Internet, mas desistiram para evitar que grupos de extrema direita se apoderem do material.

Por esta mesma razão, os autores não permitiram que as televisões transmitissem partes da entrevista, que poderiam ser interpretadas fora do contexto, e também não aceitaram convites para debates.

O que Junge viu e ouviu durante seu trabalho para Hitler a converteria, mais tarde, em uma furiosa oponente do nacional-socialismo e a levaria a se arrepender por sua ingenuidade e ignorância por ter tido simpatia pelo homem mais odiado do século XX.

O documentário foi realizado intencionalmente de forma minimalista pois, como comentou Heller, "se uma história é interessante, se basta por si mesma". Os autores do filme renunciaram a qualquer recurso espetacular. No filme não são vistas nem imagens de arquivo, nem encenações, nem há música ou movimentos de câmara.

A obra, filmada com uma só câmera e gravada com um só microfone, consiste unicamente em uma longa entrevista com Junge (um monólogo de 25 minutos) e em alguns primeiros planos da entrevistada olhando a si mesma durante uma projeção das primeiras conversas.

O filme não mostra revelações históricas, mas sim uma visão única da atmosfera da cúpula do governo alemão do bunker de Hitler, sobretudo, durante os apocalípticos dias finais.
Heller contou que o interesse em Berlim foi enorme, tanto por parte da imprensa como do público, que abarrotou hoje a sala de projeção, deixando dezenas de pessoas do lado de fora. Houve inclusive protestos irados de jornalistas que não conseguiram assistir ao filme por uma falha da organização.

Efe

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