Uma cópia restaurada de O Grande Ditador, filme de Charlie Chaplin que satiriza o nazismo teve uma recepção calorosa da platéia que participou do encerramento do Festival de Cinema de Berlim neste domingo. A exibição do filme antecede o seu relançamento mundial, programado para o fim deste ano. A projeção especial do clássico de 1940, época em que Adolf Hitler lançava seus ataques-relâmpagos pela Europa, agradou ao público que estava no Potsdamer Platz, que fica a uma curta distância do local onde o líder nazista se matou, no seu bunker, em 1945.
O ditador criado por Chaplin, Adenois Hynkel, é uma paródia aos trejeitos e a oratória evasiva de Hitler, apesar de zombar de outros tiranos. A MK2, dona dos direitos do filme, e o seu presidente, Marin Karmitz, dizem que o filme deve ganhar um grande lançamento em 200 salas de cinema da França, em outubro.
O Japão e outros países também já requisitaram a exibição do filme, e Karmitz espera estar enchendo cinemas ao redor do mundo durante os últimos meses do ano.
"Tem havido um tremendo interesse no filme", disse Karmitz. "As pessoas estão redescobrindo Chaplin". A versão restaurada de O Grande Ditador, feita em preto-e-branco entre 1939 e 1940, usou uma cópia tirada do negativo original e teve seu som original remasterizado digitalmente.
Chaplin interpreta dois papéis, o ditador Hynkel e seu parceiro, um barbeiro judeu. Uma troca de identidade permite que o barbeiro tome o lugar de Hynkel em uma convenção do partido, onde ele faz um discurso pela paz e a tolerância.
"Assim como Hitler, eu poderia falar por horas com jargões e dizer tudo o que eu queria", escreveu Chaplin em sua autobiografia, de 1964. Os discursos, numa língua que lembrava o alemão, o tomaniano, formam uma sátira inesquecível. Em uma cena, o barbeiro judeu interpretado por Chaplin, é questionado se ele era um ariano. Ele retrucou dizendo: "Eu sou vegetariano".
Última risada
A filha de Chaplin, Geraldine, disse estar emocionada com o filme ter tido a honra de encerrar o festival de Berlim e de ser relançado este ano. Ela disse que a obra de seu pai ainda diz muito nos dias de hoje.
"Ele era um humanista que lutava por liberdade e dignidade", disse Geraldine Chaplin, de 57 anos, durante entrevista coletiva em Berlim. Seu pai, que nasceu no Reino Unido, encarou a resistência dos estúdios de Hollywood para fazer o filme por causa de sua postura antinazista num momento em que os Estados Unidos estavam para entrar na Segunda Guerra Mundial.
"Ele era um cabeça-dura e fez o filme com o dinheiro do próprio bolso". O filme acabou se tornando sua obra rentável, quebrando recordes nos Estados Unidos e no Reino Unido.
"Ele poderia ser muito teimoso, um perfeccionista, mandão e trabalhador", disse Geraldine, que lembrou que seu pai certa vez a confidenciou que ele não teria feito um filme com a figura cômica de Hitler se ele soubesse que mais tarde haveria o holocausto.
Um documentário sobre o filme de Chaplin, O Vagabundo e o Ditador, de Kevin Brownlow, também foi exibido. Ele explora a resistência ao trabalho de Chaplin em Hollywood, que temia que ele poderia prejudicar os negócios com a Alemanha, e entre os judeus norte-americanos, que temiam que o filme de Chaplin pudesse impulsionar o antisemitismo.
O filme foi, sem surpresas, proibido pelos nazistas. Mas foi Chaplin que deu a última risada. "Ele amaria isso", disse Geraldine