O cineasta Woody Allen mostra em seu mais recente filme, Hollywood Ending, que estréia nesta sexta-feira nos Estados Unidos, seus sentimentos por Hollywood, ao mesmo tempo em que ri de si próprio e fala com afeto dos franceses.O personagem principal do filme, interpretado pelo próprio realizador, é um diretor de cinema neurótico que vive em Nova York. Mas para Allen, aí terminam as semelhanças.
"Ambos somos cineastas. Mas não estou louco como ele", comenta o cineasta, numa conversa num hotel nova-iorquino com um pequeno grupo de jornalistas, poucos dias antes da estréia.
O personagem central da história - que fica cego por causa da ansiedade em relação a finalizar a obra - "é também um terrível hipocondríaco. Não sou assim, sou responsável, sou produtivo", diz Allen, que aos 66 anos já assinou 44 filmes.
Allen confessa que tem "uma relação de amor e desprezo" para com a meca do cinema americano, protagonista indireta deste filme.
"Tenho carinho por Hollywood porque, ao longo de minha vida, desde minha infância no Brooklyn, sentia muito prazer com os filmes feitos em Hollywood. Não muitos, mas alguns foram muito importantes para mim, assim como várias estrelas de cinema".
"Por sorte, nunca tive que passar pelo que meus colegas foram obrigados a passar em mãos dos estúdios de Hollywood", acrescenta Allen, que recebeu ao longo da carreira dezenas de indicações para o Oscar e quatro estatuetas.
"Sempre fui um cineasta independente em Nova York, por pura sorte. Nunca apareceu em minha vida algum tirano", comenta. Já os atores do filme - entre eles Debra Messing, George Hamilton, Mark Rydell e Téa Leoni, que interpreta a ex-mulher de Allen, noiva de um magnata de Hollywood (Treat Williams)- falaram sobre a experiência de filmar com Woody Allen, a quem consideram "uma lenda".
Todos acharam uma experiência "maravilhosa", "única na vida", embora um tanto intimidante e não bem remunerada. "Todos os atores querem um dia filmar com Allen", admitiu George Hamilton. "Já filmei com Allen, agora posso morrer e ir para o céu", afirmou por sua vez Rydell, que faz o papel de agente do cineasta no filme. Mas também se queixaram de que o cineasta é demasiado hermético, que não diz o que quer deles, e que não lhes dá o roteiro do filme para ler, antes da filmagem. Allen se limita a sorrir.
"Sempre trabalho com mulheres muito fortes, muito talentosas, como Dianne Keaton, Judy Davis, Mia Farrow, Goldie Hawn, e agora Tea", diz Allen.
Sobre a dificuldade de filmar na cidade depois dos ataques de 11 de setembro, Allen foi enfático: "não tenho problemas em filmar as pessoas que passeiam nas ruas de Nova York, que se apaixonam, que admiram o perfil da cidade -que continua maravilhoso, embora não existam mais as torres gêmeas".
O ataque "foi um terrível tragédia, mas a cidade continua vital, cheia de histórias", diz Allen. "Nova York e o país tiveram tragédias, guerras. E todos os países passaram por fomes, terremotos, guerras. São fatos da vida, terríveis, e que é tempo de ajudar a metabolizar".
"Quando concluo um filme, geralmente digo, 'Meu Deus, voltei a fazer tudo mal'. Mas com este filme sinto que tive uma boa idéia, e que a consegui plasmar", comenta Allen, que confirma sua viagem a Cannes (sul da França), para abrir no dia 15 de maio o Festival de Cinema.
"Os franceses foram carinhosos comigo, generosos, sempre fiéis. Me tiveram sempre na maior estima e sempre brinquei com eles por isso. Vou a Cannes, porque acho que este filme dará muito prazer aos franceses", assegura.