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Frenesi de Cannes pode ser céu ou inferno para cineastas

Quarta, 15 de maio de 2002, 13h34

Para cineastas, clima frenético das duas semanas do Festival Internacional de Cinema de Cannes pode ser mais o puro dos paraísos ou o mais sofrido dos infernos.

Durante 15 dias de agitação, tudo é brilho na Côte d'Azur francesa, enquanto o famoso festival oscila entre filmes de arte desconhecidos e trabalhos marcados pelo tradicional glamour de Hollywood.

O diretor Woody Allen - cujo Hollywood Ending vai inaugurar a 55ª edição anual do evento, nesta quarta-feira - se mostrou calmo ao comentar sua estréia em Cannes.

"Todo o mundo está dizendo que vai ser uma loucura, mas vou passar por isso tudo porque os franceses sempre me trataram muito bem", disse o nova-iorquino responsável por transformar, em suas produções, excentricidade em arte.

Ao longo dos anos, as reações dos cineastas ao festival têm variado da euforia à desilusão.

O norte-americano Steven Soderbergh ficou tão atônito ao receber a cobiçada Palma de Ouro, em 1989, por Sexo, Mentiras e Videoteipe, que contou ter se sentido "como um Beatle por uma semana".

Já o diretor de Os Últimos Passos de um Homem, Tim Robbins, teve reação bastante diferente. Comentando seu contato com o frenesi de Cannes, afundou a cabeça nas mãos e disse: "Não sei por que alguém pode querer submeter seu 'filho querido' (seu filme) a este lugar".

"É um misto muito estranho da arte com a total prostituição do cinema", disse Robbins, sobre o festival.

Para diretores novatos ou quase, a atenção que recebem da mídia pode ser desconcertante. Quentin Tarantino ficou em estado de choque quando ganhou o prêmio máximo em 1994 por Pulp Fiction - Tempo de Violência, que, em seguida, virou sucesso internacional de bilheteria.

"Não faço o tipo de filme que une as pessoas. Faço filmes que dividem as pessoas", ele comentou.

Para os franceses, os cineastas são os deuses da tela. Assim, não surpreende que alguns deles tenham se tornado presença constante em Cannes.

Os excêntricos irmãos Ethan e Joel Cohen, que já concorreram cinco vezes nos últimos dez anos, são presença regular na elegante cidade litorânea francesa. "Já fazemos parte da mobília", disse Joel.

Francis Ford Coppola, que recebeu o prêmio máximo em 1974 por A Conversação e, em 1979, por Apocalypse Now, guarda memórias agradáveis do evento. "Vim para Cannes com meu primeiro filme. Eu devia ter uns 26 anos, e, para mim, era o lugar mais encantador do mundo", contou.

Mas nem todos concordam com ele. O célebre ator britânico sir Ian McKellen, depois de uma rodada interminável de entrevistas promocionais por conta de seu papel em Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel, no ano passado, declarou sem rodeios: "Cannes não é magia - é mercado, nada mais".

Reuters

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