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Filme exibido em Cannes tem participação de índios brasileiros

Segunda, 20 de maio de 2002, 16h16

Uma das atrações mais aplaudidas neste primeiro final de semana do Festival de Cannes, dentro da prestigiada mostra paralela Un Certain Regard, foi Ten Minutes Older - um projeto dirigido por Spike Lee, Wim Wenders, Chen Kaige, Victor Erice, Jim Jarmusch, Aki Kaurismaki e Werner Herzog.

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Cada um dos cineastas se encarrega de contar uma história de dez minutos sobre o tema da relatividade do tempo.

O alemão Werner Herzog (Fitzcarraldo) apontou sua câmera para o Brasil no segmento 10.000 Anos Mais Velho, em que focaliza o efeito devastador que o primeiro contato com os brancos teve sobre os índios Uru Eus Wau Waus, em 1981.

Vinte anos depois, Herzog acompanhou Vicente Rios, o mesmo cinegrafista que filmou a abordagem da tribo, que vivia até aquela época na Idade da Pedra.

Rios localizou o cacique Tari, hoje um homem maduro e devastado pela tuberculose, que precisa deslocar-se para tratamento médico em Porto Velho (RO).

O cineasta comenta o processo pelo qual a cultura e organização primitivas sucumbiram ao contato com os brancos por pura desproteção, para começar, contra doenças simples, como varíola e gripe, que mataram muitos indígenas.

Hoje, sinal dos novos tempos de desejo de integração, o sobrinho de Tari, o jovem Paulo, usa um boné do Flamengo em plena selva amazônica e insiste em falar somente em português.

"Quero apenas ser um bom brasileiro", ele diz à equipe do filme de Herzog. Seu tio Tari, porém, fala o idioma nativo.

Saudoso dos velhos tempos em que era um guerreiro altivo, Tari reencena, quase teatralmente - chegando até a imitar as vozes de todos os envolvidos -, um choque que teve com dois brancos, que construíram uma tenda em seu território e acabaram mortos por ele diante de seu filho pequeno.

No final, o cacique ganha da equipe de filmagem um despertador, objeto cujo sentido ainda parece ser totalmente estranho ao seu universo.

Fraude Eleitoral
Já o diretor Spike Lee traça, num outro segmento, a memória das irregularidades da última eleição americana na Flórida -estado governado por Jeb Bush, irmão do presidente George W. Bush e onde os últimos votos decisivos foram contados.

Entrevistando membros da campanha do candidato democrata derrotado, Al Gore, Lee traça um painel dos últimos momentos da apuração, colocando-se claramente a favor da tese de que houve uma fraude monumental na eleição - como demonstra o nome de seu trabalho, We Wuz Robbed ("fomos roubados", em linguagem coloquial).

O projeto deste filme coletivo, que recoloca em voga um tipo de produção que muitos cineastas europeus realizaram na década de 60, foi co-produzido por iniciativa de Uli Felsberg para a Road Movies, Odyssey Films e Matador Pictures.

Neusa Barbosa/ Reuters

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