Polêmico na vida, João Francisco dos Santos, vulgo Madame Satã, o malandro que espalhou o rastilho de seu charme perverso nas ruas cariocas da Lapa nos anos 1930, continua semeando controvérsias.Veja também:
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A mais recente delas é o filme Madame Satã, de Karim Ainouz, integrante da mostra paralela Un Certain Regard, em Cannes.
A exibição chocou alguns espectadores, que abandonaram a sala depois de cenas de sexo intensas, especialmente uma protagonizada pelos personagens Satã (Lázaro Ramos) e Renatinho (Felipe Marques).
Diretor estreante, por isso, candidato ao troféu Caméra d'Or, Ainouz - um cearense de 36 anos, filho de um argelino e uma brasileira -, confessa ter ficado um pouco surpreendido com tais reações.
Ele conta que o convite recebido para a sessão de seu próprio filme, em Cannes, continha uma tarja, significando que o trabalho "pode conter cenas que ofendam o espectador". "Não estou acreditando, fiquei muito impressionado com tudo isto", disse à Reuters.
Mesmo assim, o diretor não acha toda essa polêmica negativa. "Nem todo mundo veio para agradar. Acho que o choque também pode ser produtivo", assinala.
A opção pelo corpo para expressar toda a força e complexidade do protagonista de seu filme foi uma opção clara do diretor e roteirista. "A minha paisagem é o corpo. Por causa dele é que Satã consegue sobreviver. A força dele era exercitada pelo corpo", acentua.
Por outro lado, a última coisa que Ainouz quer no mundo é que seu filme receba um rótulo.
Linguajar do malandro carioca
Um dos aspectos mais fluentes do enérgico e visceral Madame Satã é a linguagem, que sai da boca dos personagens com uma verossimilhança impressionante.
Ainouz explica que pesquisou o linguajar da malandragem carioca em livros - o que serviu de base, mas não de camisa-de-força, já que houve um intenso processo de depuração nos ensaios, antes da filmagem.
Diante disso, não é nenhuma surpresa quando ele revela: "Poucos diálogos foram escritos. A maioria deles foram encontrados e moldados de acordo com a necessidade dramática".
As polêmicas parecem ter sido benéficas à comercialização internacional de Madame Satã. Até a última segunda-feira, o filme tinha firmado contratos de distribuição na França (onde ele estréia em dezembro), Espanha, Suíça, Portugal, Alemanha e Israel.