O diretor russo Aleksandr Sokurov ampliou os limites do cinema com Russian Ark, o primeiro longa-metragem internacional filmado numa única tomada.Veja também:
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Centenas de figurantes passaram meses ensaiando para a produção inovadora, que aconteceu em uma tarde, e conduz o espectador para uma viagem histórica pelo famoso museu Hermitage, em São Petersburgo.
Sokurov disse, na quarta-feira, que a idéia por trás do filme - um dos 22 concorrentes do Festival de Cinema de Cannes -, era rodar a narrativa de uma só vez, sem manipular o tempo real.
Alfred Hitchcock criou a ilusão de uma filmagem em tempo real com Festim Diabólico, de 1948, mas na realidade o trabalho, que tem 80 minutos, foi feito de oito sequências de 10 minutos unidas de maneira altamente engenhosa.
"Trabalhar em tempo real gera a sensação de estarmos tocando algo divino", disse Sokurov em entrevista coletiva à imprensa reunida em Cannes. Mas ele não acha que tenha feito história no cinema.
Para o cinegrafista alemão Tilman Buettner, o maior desafio em realizar a produção foi físico.
Buettner treinou durante meses para a filmagem - ocorrida em 23 de dezembro de 2001 -, exigindo que ele percorresse 1,3 quilômetro de corredores com uma câmera amarrada ao corpo, sabendo que um único erro jogaria por terra o projeto inteiro.
A câmera vai passando de sala em sala, enquanto um narrador apresenta uma sucessão de painéis suntuosos com personalidades históricas como Catarina, a Grande.
Sokurov se queixou de que as condições técnicas em que seu filme foi exibido em Cannes não foram dignas do Hermitage, um palácio que, antes da Revolução de 1917, era a residência dos czares russos.
"O festival recebeu um filme singular, tanto que nunca houve algo semelhante em toda a história do cinema. Teria sido normal que os serviços técnicos tomassem cuidado especial com ele", disse o diretor.