A diretora indiana Mira Nair, que trabalha nos Estados Unidos, precisou voltar ao seu país e retornar às suas origens culturais para se consagrar. No ano passado, aos 44 anos, conquistou o cobiçado Leão de Ouro no Festival de Veneza com a comédia dramática Um Casamento à Indiana. Ela não filmava na Índia desde 1996, quando seu filme Kama Sutra foi impiedosamente cortado pela censura local. Em seu retorno, a diretora parece ter deixado as mágoas de lado, pois seu novo trabalho é uma alegre e colorida festa para os olhos.
Nair toma emprestado alguns dos elementos presentes nos filmes de Boollywood, como é chamada a indústria cinematográfica indiana, e os adapta a seu prazer.
"Quando eu era mais jovem, tinha uma atitude mais esnobe diante de Bollywood. Seus filmes, para mim, eram kitsch e ponto final. Mas agora, a Índia toda mudou. Até os trabalhos de Bollywood são muito bem produzidos e realmente penetram em todas as classes da sociedade indiana", disse ela em entrevista à Reuters.
Mas isso não significa que seu longa-metragem é um produto típico de Bollywood. "De forma alguma. Um Casamento à Indiana foi um jeito de fazer um filme em Bollywood, só que em meus próprios termos", ressaltou.
Tradição x Modernidade
Segundo Mira Nair, a família retratada no filme, envolvida nos preparativos de uma luxuosa festa de casamento, não pode ser considerada típica da Índia. Com cerca de um bilhão de habitantes e muitas comunidades étnicas e religiosas, o país não apresenta uma uniformidade humana e cultural.
"A família que eu retrato é, obviamente, da classe média alta. É exatamente como a minha família. Se houvesse um casamento lá em casa, seria exatamente como o do filme", explicou.
A produção, na opinião da diretora, traça um retrato da Índia contemporânea, com um forte apego às tradições, mas com um pé na modernidade. "Trata-se de uma nação de contrastes. Tudo coexiste ali. A mansão e a favela estão sempre juntas na paisagem", explicou.
A própria história mostra dois países distintos na mesma festa: o luxo da família rica, que vai casar a filha, e a simplicidade e ternura vistas na aproximação da empregada doméstica e seu pretendente, o mestre-de-cerimônias da recepção, um sujeito simples que mora na periferia da cidade.
Apesar de divergir esteticamente de Bollywood, a diretora acredita que seus filmes se orientam pelos mesmos princípios. "As pessoas podem rir e chorar, embora o estilo de combinar drama e comédia seja completamente diferente do que estão acostumadas. O realismo é um elemento novo no meu estilo."
Mira Nair sente orgulho em dizer que seu trabalho é regional, mas consegue comover platéias em todo o mundo. "Pessoas que o viram, seja na Islândia, Israel ou Nápoles, me disseram: "Esta é minha família na tela". Isto porque a história que contamos diz respeito à condição humana."
O costume dos casamentos arranjados, como é mostrado no filme, começa a mudar. "Agora, os noivos são apresentados um ao outro pelos pais e dá-se um prazo de seis meses para o namoro. Mas se em uma semana os dois descobrirem que não têm nada a ver um com o outro, tudo bem, eles podem romper."