O público que lotou apenas parcialmente o Palácio dos Festivais de Gramado na noite de terça-feira conheceu o mais forte candidato ao Kikito na categoria de filmes latinos, o argentino-espanhol El Hijo de la Novia, de Juan José Campanella. » Saiba mais sobre o Festival de Gramado
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Indicada ao Oscar de filme estrangeiro, essa comédia dramática usa como arma diálogos inteligentes sem cair na banalidade, transformando as pequenas adversidades da vida comum em matéria-prima - como brigas de casais divorciados ou a maneira como os filhos se comportam diante da expectativa dos pais.
Um elenco afinado se une em torno da história de Rafael Belvedere (Ricardo Darín, de Nove Rainhas) que, aos 42 anos, vê sua vida passar enquanto se desdobra para administrar sozinho o restaurante da família.
Ele não tem tempo para se dedicar à filha nem à mãe, internada num asilo com mal de Alzheimer. O pai, ao contrário, a visita diariamente. Um dia, Rafael sofre um ataque cardíaco e passa a repensar suas prioridades na vida.
Como pano de fundo, está uma Argentina que caminha para a crise, já que o longa-metragem foi rodado antes da bancarrota do país. Nos muros de Buenos Aires pode-se ver pichações contra o FMI.
PLÍNIO MARCOS REVISITADO
O tom pesado da obra de Plínio Marcos marcou a segunda exibição da noite, a do carioca Dois Perdidos Numa Noite Suja de José Joffily.
Débora Falabella, a Mel da novela O Clone, encarna mais uma vez uma garota-problema, Paco, que perambula pelas ruas de Nova York vestida como menino para conseguir dinheiro em troca de sexo oral. Enquanto isso, sonha com o sucesso como cantora de hip-hop.
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Um de seus clientes irrita-se ao descobrir que Paco é mulher, mas Tonho (Roberto Bomtempo), outro imigrante brasileiro que sonha em voltar para o Brasil com alguns dólares, a ajuda.
Os dois então passam a dividir um apartamento num galpão qualquer, numa convivência difícil e que transforma a vida de ambos.
CURTAS
A seleção de curtas da noite não poderia ser mais eclética.
De um lado, a delicadeza do cearense O Céu de Iracema de Iziane Filgueira Mascarenhas, sobre um casal de crianças durante uma disputa de pipas.
Sem nenhum diálogo, o filme tem como apoio uma excelente trilha sonora que cadencia de maneira sutil e visivelmente feminina a insinuação do primeiro amor entre as crianças.
Toda essa graça, porém, desaparece por completo no brasiliense O Jardineiro do Tempo, de Mauro Giuntini.
A ficção científica perde o ritmo ao contar a viagem no tempo de um norte-americano que tenta encontrar o paisagista Roberto Burle Marx, mas erra de ano e acaba parando no começo deste século.
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