A dor das mulheres em todos os continentes, humilhadas, violadas, encerradas ou vendidas, foi denunciada em pelo menos cinco filmes apresentados nos dois primeiros dias do festival de cinema de Veneza, na quinta e nesta sexta-feira. » Confira o especial
Junto com Frida sobre a cruel vida da pintora mexicana Frida Kahlo da americana Julie Taymor e o deprimente complexo de culpa de Sophia Loren após abandonar sua filha ilegítima no filme dirigido por seu filho Edoardo Ponti, Between Strangers, mais três cineastas denunciaram as injustiças e humilhações que padeceram as mulheres no século XX.
Magdalena Sisters, do diretor inglês Peter Mullan, baseado em fatos reais, é um duro documento contra a igreja católica e em particular contra as freiras irlandesas que até há poucos anos encerravam as jovens "descarrilhadas", muitas delas violadas e mães solteiras, infligindo-lhes cruéis castigos.
O filme, que foi longamente aplaudido e que arrancou espontâneas ovações do público ante a rebelião de algumas delas, narra a vida de quatro jovens rechaçadas por seus familiares e enviadas a passar o resto de suas vidas em um convento, onde são tratadas como escravas e submetidas a perversos jogos.
Ambientado nos anos 60, o filme, que concorre na seção oficial, termina revelando um dado terrível: pelo menos 30.000 mulheres foram encerradas nesses conventos que existiram até 1996.
"Não é um filme contra a Igreja católica nem contra Irlanda, é um filme contra qualquer forma de opressão, na Europa ou no Oriente Médio, aonde for", declarou o diretor.
Igualmente comoventes e inquietantes são as imagens do filme Lilya-4-ever do sueco Lukas Moodysson, que narra o difícil caminho pelo qual muitas adolescentes provenientes dos países do leste da Europa acabam no mundo da prostituição.
Lilya, uma russa de 16 anos, abandonada por sua mãe após partir para os Estados Unidos, termina enganada por um jovem que a convence ir para a Suécia, onde cai na rede da prostituição, sem documentos e obrigada a manter relações sexuais.
Desconsoladamente pessimista, o filme concorre ao prêmio São Marco da seção contra-corrente.
"Vivemos em um mundo em que se compram as pessoas, seus rins, que explora os deserdados e os miseráveis como um produto. Algo que ocorre na Rússia ou no México e sobretudo na opulenta Suécia", afirmou o diretor.
A lição de otimismo provém de um filme africano, Nha Fala da cineasta da Guiné-Bissau, Flora Gomes, dedicado a Amilcar Cabral, um dos pais da independência da África e que com danças e alegria narra como se pode romper a maldição de ser mulher em um país pobre e machista.