No ano passado, Steven Soderbergh fez história no Oscar e era o queridinho de Hollywood. Agora, está tendo que combater os críticos que não entenderam e não gostaram de seu novo filme. » Confira cobertura completa do Festival de Veneza
Full Frontal, uma produção repleta de estrelas mas feito com orçamento minúsculo, vem sendo arrasado por muitos dos críticos que o levaram a um feito histórico no ano passado: duas indicações no mesmo ano para o prêmio de melhor diretor, que ele acabou recebendo por Traffic.
"Os críticos levaram Full Frontal a sério, sendo que, na realidade, é uma sátira", disse o diretor a jornalistas no Festival de Cinema de Veneza, onde o filme é um dos 18 a concorrer na seção de cinema experimental.
"Existem duas categorias de filmes: os que contam e os que mostram. Os críticos só querem o primeiro tipo, porque essas histórias se enquadram em seu esquema. Se algo não se encaixa no esquema deles, ficam furiosos", disse o diretor cujo longa de estréia, Sexo, mentiras e videoteipe, em 1989, lhe valeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Full Frontal ostenta um elenco que normalmente custaria milhões de dólares, incluindo David Duchovny, astro de Arquivos X, e Julia Roberts, que ganhou o Globo de Ouro e o Oscar em 2001 por sua atuação em Erin Brockovich, de Soderbergh.
O roteiro dado aos atores vinha com um prefácio apresentando várias normas, incluindo a exigência de que seria filmado em locações externas, com câmeras seguradas nas mãos dos cinegrafistas.
Esse método reduz custos mas, o que é mais importante, realça o realismo da produção - no caso de Full Frontal, uma história sobre relacionamentos esdrúxulos entre pessoas solitárias em Los Angeles.
Os atores foram orientados a ir ao set em seus próprios carros que eles mesmos deveriam dirigir, a abrir mão dos trailers confortáveis e cuidar de seus próprios figurinos.
Consta que Julia Roberts recebeu apenas 3.000 dólares e que o longa-metragem custou apenas 2 milhões de dólares. Não só isso: ela teve que se responsabilizar por seus próprios figurinos, cabelos e maquiagem.
Em lugar das imagens "enlatadas" mais comuns, as imagens filmadas com as câmeras seguradas nas mãos conferem ao espectador a sensação de que está espionando a vida dos personagens, como um voyeur.
"Os reality shows são a grande onda do momento na TV. Mas isso não é realidade, é apenas mais uma forma estética de ficção", disse Soderbergh, prevendo que um dos legados de seu filme será deixar um instantâneo valioso da Los Angeles "real".
O retorno ao essencial faz parte da busca de equilíbrio artístico do diretor do grande sucesso de Hollywood Onze Homens e um Segredo, do ano passado.
"Onze Homens e um Segredo e Full Frontal são o contrário um do outro, mas eu não poderia ter feito um sem ter feito o outro", explicou o diretor. "A gente precisa recarregar as baterias".