Para o cineasta argentino Fernando Solanas é "inexplicável a ausência de cinema latino-americano em Veneza", que este ano descartou essa cinematografia para a competição oficial. » Confira cobertura completa do Festival de Veneza
Em uma conversa com a AFP, o diretor argentino, convidado a Veneza como jurado do Prêmio Latino criado pelo Instituto Internacional para o Cinema e o Audiovisual dos Países Latinos, manifestou sua indignação pela decisão do novo diretor do festival, o suíço Moritz De Halden.
"Veneza tem sido muito importante para o cinema latino-americano e este ano não acho explicações para a pouca representação. No ano passado foram exibidos sete filmes argentinos, sem falar dos demais países", lembrou Solanas.
O cineasta argentino, conhecido pelo filme Tango: o exílio de Gardel, faz parte do júri junto com o escritor colombiano Efraín Medina Reyes (autor de Había una vez el amor y tuve que matarlo e Técnicas de masturbación entre Batman y Robin) e o embaixador da França em Cuba, Jean Levi.
Presidido pelo cineasta italiano Giulio Pontecorvo, o júri terá que escolher entre 29 filmes "latinos", a maioria franceses e italianos, que participam no festival nas diversas seções.
O novo prêmio, chamado Prêmio Cidade de Roma-Arco-íris Latino, será outorgado ao melhor filme e ao melhor diretor estreante proveniente de um país cujo idioma tenha origem no latim.
O prefeito de Roma, Walter Veltroni, ex-crítico
cinematográfico, fará entrega do prêmio no próximo 7 de setembro durante uma cerimônia oficial em Veneza.
A ausência de cinema da América Latina também foi criticada pelo diretor do Festival de Cinema Latino-americano de Trieste (norte da Itália), o chileno Rodrigo Díaz, que fez parte da comissão selecionadora durante a precedente gestão de Alberto Barbera, substituído em março a pedido do novo governo de direita de Silvio Berlusconi.
"Foi um descuido. Em 25 dias os responsáveis pelas áreas não conseguiram escolher filmes importantes. Além do mais, o comitê de seleção era de baixo nível, de sete só dois provinham do mundo do cinema", assegurou à AFP.
"O resultado é um festival fraco e esquálido", frisou.
Alguns críticos de cinema apontaram certa "mediocridade" na maioria dos filmes do festival, salvo no último momento graças à experiência do suíço De Halden, que dirigiu por 22 anos o festival de Berlim.
Para Pontecorvo, o lançamento do prêmio "latino" deverá suscitar maior atenção para o cinema latino-americano.
"É uma operação de mídia para tentar criar uma área de livre intercâmbio cinematográfico. Uma maneira de romper com quase 100 anos de condicionamento ao gosto americano", afirmou.
O cineasta italiano, que dirige o Instituto, criado durante o último festival de Veneza (setembro de 2001), firmou uma série de acordos para a distribuição e difusão de filmes e produtos culturais, com vistas a estimular um mercado, com gostos, tradições, afinidades e enfoques parecidos.
O prêmio será dado também aos cineastas de países latinos que participem de outros dois importantes festivais de cinema da Europa: Cannes (França) e Berlim (Alemanha) e recebe o respaldo de quase todos os ministérios de cultura dos países presentes.