O Festival Internacional de Filmes de Toronto, interrompido no ano passado pelos ataques de 11 de setembro, vai oferecer controvérsia e reflexão sombria ao lado do tradicional brilho e glamour quando começar, na quinta-feira. Filmes que examinam genocídio, violência e os ataques de 11 de setembro - incluindo uma série de curtas já criticados como antiamericanos - serão projetados mesmo com a esperança dos fãs de verem estrelas como Denzel Washington, Antonio Banderas e Sophia Loren.
"Há alguns filmes que são mais sóbrios, que são mais escuros do que se pode esperar, mas não acho que isso esteja diretamente ligado ao ano passado", disse Steve Gravestock, gerente da programação do festival.
"Obviamente temos alguns filmes que fazem referência ao ocorrido no ano passado, o 11/09/01 e The Guys... mas há um monte de filmes muito otimistas também".
O 27º Festival Internacional de Filmes de Toronto, que acontece entre 5 e 14 de setembro, é considerado um dos mais influentes do mundo, ao lado de Cannes, Veneza, Berlim e Sundance.
O evento tem uma tradição de combinar o glamour de Hollywood com a arte caseira.
As estrelas aparecem para promover seus filmes, enquanto os organizadores garantem uma pesada seleção de fitas estrangeiras e independentes. A maior parte da platéia é formada por cinéfilos multiculturais.
Entre as estrelas que participam neste ano estão os veteranos de Hollywood Michelle Pfeiffer, Dustin Hoffman e Robert Duvall, a lenda francesa da música Johnny e Salma Hayek, do México.
Mas o brilho será afetado pela coincidência com o aniversário de 11 de setembro.
GENOCÍDIO
O festival começará na noite de quinta-feira com uma exibição de gala de Arafat, de Atom Egoyan, que provocou controvérsia antes mesmo da estréia.
Ararat, que fez sua prémiere mundial em maio, em Cannes, faz uma análise apaixonada de alegações de genocídio e vê o aclamado diretor canadense voltando às origens armênias.
Baseado em eventos históricos, o filme segue o curso de duas famílias que vivem em Toronto, e trata da diáspora de armênios na América do Norte e de como lidam com seu passado tumultuado e lutam para tratar de suas identidades.
Os armênios alegam que cerca de 1,5 milhão de pessoas do povo foram mortas por turcos otomanos entre 1915 e 1923. O governo turco nega qualquer genocídio e critica o filme como propaganda.
Egoyan também abriu o festival em 1997, com The Sweet Hereafter e em 1999, com Felicia's Journey. O festival já mostrou outros 10 filmes do diretor desde 1982.
CONSEQUÊNCIAS DE 11/9
Dois filmes tratam dos eventos de 11 de setembro. O primeiro, The Guys, é uma estréia mundial. Estrelado por Anthony LaPaglia e Sigourney Weaver, trata de um bombeiro que perdeu oito dos seus homens na queda das torres do World Trade Center e do editor que o ajudou a escrever seus elogios.
O filme é uma adaptação da peça da jornalista Anne Nelson, baseada em sua própria experiência na ajuda a um capitão dos bombeiros a escrever sobre os colegas que perdeu.
O segundo projeto - chamado 11'09''01'' - é uma compilação de curtas sobre os ataques feitos por diretores internacionais, como Youssef Chahine, Shohei Imamura, Mira Nair, Sean Penn e Danis Tanovic.
Para a revista Variety, uma das mais importantes da indústria do entretenimento, alguns dos filmes são muito "antiamericanos".
Mas os produtores defendem os filmes, dizendo que são uma exploração da tragédia a partir de diferentes perspectivas. Será a primeira oportunidade para o público norte-americano decidir por conta própria.
Ambos os filmes serão mostrados em 11 de setembro, quando os organizadores interromperão os eventos para lembrar os ataques. As exibições e as entrevistas serão suspensas até as 11h.
CULTURA DAS ARMAS
Outro filme importante do festival é Spider, do diretor canadense David Cronenberg, que encantou platéias com A Mosca, Crash, Estranhos Prazeres e Gêmeos: Mórbida Semelhança. Seu filme mais recente, Spider, mostra Ralph Fiennes como um esquizofrênico liberado prematuramente de um hospital mental.
Bowling for Columbine, de Michael Moore, inspirado no massacre na escola de Columbine, em 1999, nos EUA, também fará sua estréia na América do Norte durante o festival. Foi o primeiro documentário a competir em Cannes em 46 anos e ganhou um prêmio especial neste ano.