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Festival de Veneza chega ao fim sem surpresas

Domingo, 08 de setembro de 2002, 12h47

A lembrança do dia 11 de setembro nos Estados Unidos atingiu a 59ª edição do Festival de Veneza, que termina neste domingo, sem grandes surpresas, depois de apresentar uma série de filmes bem feitos, mas nenhuma obra-prima.

» Confira cobertura completa do Festival de Veneza

Organizada pela primeira vez em 70 anos por um estrangeiro, o suíço Moritz De Halden, nomeado de surpresa em março pelo novo governo de Silvio Berlusconi, o festival exibiu cerca de 140 filmes, considerados belos e feios, vulgares e pudicos, políticos e de amores impossíveis.

Satisfeito por ter vencido o desafio de organizar em quatro meses um festival internacional, De Halden foi o primeiro a falar sobre as falhas na organização, enquanto avisava que só fica no cargo se puder fazer isso por vários anos.

"É verdade que o nível dos filmes é bom e não excepcional, mas isso depende da situação do cinema, do ano de colheita, apesar de acreditar que o filme do japonês Takeshi Kitano e do escocês Peter Mullan receberam críticas muito positivas", declarou ao realizar um balanço de sua gestão.

Dos 21 filmes que concorreram ao Leão de Ouro e dos 18 ao Prêmio São Marco, na mostra paralela, poucos comoveram os cinéfilos, que pela primeira vez estiveram de acordo ao aplaudir o filme coletivo 11''09'01 sobre os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos.

Realizado por 11 diretores de talento, jovens e veteranos, de todos os continentes, o filme estreou em Veneza a pedido de De Halden, que o incluiu enfrentando grandes dificuldades.

As polêmicas sobre o filme, tachado de "antiamericano" pela interpretação que cada diretor realiza em onze minutos do próprio 11 de setembro, terminaram por contribuir muito além do que era sua função: refletir sobre o que aconteceu neste dia.

Premiada pela Federação Internacional de Imprensa, pelo episódio mais político de todos, o do inglês Ken Loach sobre outro 11 de setembro, o do golpe de Estado no Chile em 1973, organizado pelo general Augusto Pinochet com o apoio dos Estados Unidos, o filme estréia em muitos países europeus no próximo dia 11, enquanto nenhuma rede de distribuição dos Estados Unidos quis adquiri-lo.

O júri presidido pela atriz chinesa Gong Li, acompanhada sempre por um tradutor, teve a difícil tarefa de escolher o melhor filme do ano. "Não há uma obra-prima, mas quatro ou cinco filmes muito bons", escreveu o jornal La Repubblica que cita "O homem do trem" do francês Patrice Leconte, Dolls, de Kitano, Road of perdition de Sam Mendes, Dirty pretty things do inglês Stephen Frears e The Magdalene sisters do escocês Mullan.

"Todos têm suas imperfeições, alguns são horríveis loucuras como Bear's Kiss do siberiano Sergej Bodrov", afirmou o jornal ao se referir ao vencedor do Leão de Barro, dado pelo público segundo a publicação distribuída durante dez dias do festival.

Como em todas as edições anteriores, o Festival de Veneza tentou combinar estrelas com autores, arte com lamparinas, convidando artistas como Sofia Loren, Tom Hanks, Harrison Ford, Catherine Deneuve e Julianne Moore.

O primeiro festival da era Berlusconi, ex-magnata das comunicações, foi marcada também por filmes baseados em fatos reais, que denunciam atrocidades em alguns casos, como as cometidas nos conventos irlandeses, ou o tráfico de órgãos ou prostitutas, assim como amores impossíveis entre poetas esquizofrênicos ou artistas malditos, como o da pintora mexicana Frida Kahlo, filme ao mesmo tempo amado e criticado pelo público e cinéfilos.

AFP

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