O filme de Peter Mullan The Magdalene Sisters (As irmãs de Magdalene), que retrata o abuso e crueldade dentro de uma instituição de caridade da Igreja Católica da Irlanda, ganhou o Leão de Ouro do Festival de Filme de Veneza no domingo. » Confira cobertura completa do Festival de Veneza
O filme, que foi criticado pelo jornal do Vaticano, conta a história verídica de quatro garotas supostamente promíscuas internadas no Asilo de Magdalene na década de 1960, e que eram forçadas a trabalhar praticamente como escravas em lavanderias. Elas sofriam constantes abusos.
"É uma grande honra", disse o diretor escocês, que vestia uma saia azul e jaqueta de veludo violeta ao receber o troféu dourado. O filme foi escolhido entre 21 competidores.
"O filme não é somente sobre a Igreja Católica e sobre como ela reprimiu jovens mulheres na Irlanda, é sobre todas as fés que pensam que têm o direito de pressionar mulheres", disse Mullan, mais conhecido como estrela de My Name Is Joe.
"Mas se eles puderem libertar suas mentes, podem começar a reagir".
A estréia mundial do filme foi muito bem recebida pelo público no mais antigo festival do mundo, mas criticado pelo jornal do Vaticano, o L'Osservatore Romano, como uma "provocação irada e rancorosa" que desvirtua os líderes religiosos.
"Dizer que meu filme é um escândalo é um absurdo", disse Mullan em entrevista coletiva. "Não criei Asilo de Magdalene, eles criaram. Só queria expor uma das maiores injustiças da segunda metade do século 20".
Há quatro anos, a estréia de Mullan como diretor, Orphans (Órfãos), ganhou quatro prêmios menores em Veneza. O filme trata de uma família trabalhadora de Glasgow.
OUTROS PRÊMIOS
O segundo colocado pelo Júri do Grande Prêmio foi para Dom Durakov (Casa de Tolos), um filme do diretor russo Andrei Konchalovsky, que conta a história de internos em um hospital psiquiátrico na Chechênia.
Julianne Moore ganhou o prêmio de melhor atriz pelo seu papel como uma perfeita dona-de-casa norte-americana dos anos 1960, que teve a vida destruída em Far from Heaven (Longe do Céu) e o italiano Stefano Accorsi levou para casa o prêmio de melhor ator pela representação do poeta Dino Campaba em Un viaggio chiamato amore (Uma viagem chamada amor).
Far from Heaven, de Todd Haynes, também ganhou o segundo prêmio, por "contribuição individual fora de série" para o diretor de fotografia, Ed Lachman.
Moore, que não pôde ir à cerimônia por causa da estréia do filme na América do Norte, mandou uma mensagem através de Lachman.
"Foi um grande presente para mim...Eu o agradeço (Haynes) por este reconhecimento".
Oasis, da Coréia do Sul, sobre um homem que se apaixona por uma jovem com paralisia cerebral, levou dois prêmios para casa: um especial para o diretor Lee Chang-dong e o prêmio por melhor ator ou atriz jovem, para Moon So-ri.
O filme em chinês Xiaocheng Zhi Chun (Primavera em uma pequena cidade), de Tian Zhuangzhuang, ganhou o prêmio de vanguarda San Marco.
ORGANIZAÇÃO SALVA O FESTIVAL
Vinte e um filmes competiram pelo Leão de Ouro no 59º Festival de Veneza e 19 brigaram pelo prêmio San Marco. O Leão de Ouro do ano passado foi para Monsoon Wedding, de Mira Nair (Índia), que teve sucesso de bilheteria ao redor do mundo.
Mesmo antes da cerimônia de premiação, muitos críticos já haviam declarado o vencedor: Moritz de Hadeln, organizador de última hora do evento neste ano.
Apesar das previsões de que o evento não aconteceria depois da demissão do antigo diretor, em meio a uma crise política, De Hadeln levou estrelas de Hollywood para Veneza.
De Hadeln, cidadão suíço que organizou o Festival de Berlim por 22 anos, foi chamado somente seis meses antes do início do evento de Veneza.