11 de Setembro, o filme coletivo produzido pela França, lembrando o primeiro aniversário dos ataques de 11 de setembro de 2001 contra as torres gêmeas do World Trade Center de Nova York, é um dos mais aguardados trabalhos do Festival do Rio BR 2002 e terá sua primeira exibição na noite deste domingo no Cine Odeon. Aplaudido no Festival de Veneza, o polêmico filme recebeu algumas críticas desfavoráveis da imprensa americana, mais por suas qualidades do que por seus defeitos.
O projeto traz a visão totalmente independente de onze cineastas numa reflexão sobre esse que foi um dos acontecimentos capitais da história do mundo nos últimos tempos.
Abre o painel o trabalho da jovem diretora iraniana Samira Makhmalbaf, mostrando uma professora falando sobre o 11 de setembro a um grupo de crianças afegãs que nem sequer sabem o que é uma torre -- escancarando o nível de miséria daquele lado do mundo.
O egípcio Youssef Chahine mistura tempos e nacionalidades para forjar um diálogo fantástico entre inimigos -- entre eles, um fuzileiro norte-americano morto num atentado de 1983, em Beirute, e um homem-bomba palestino.
O bósnio Danis Tanovic (Oscar de melhor filme estrangeiro por Terra de Ninguém) ergue uma ponte entre a dor das mulheres que perderam maridos e filhos na cidade de Srebrenica, na guerra que estilhaçou a ex-Iugoslávia, e os parentes dos mortos no WTC.
Mas ninguém fez melhor ao traçar um paralelo com a dor numa outra parte do mundo do que o sempre engajado diretor inglês Ken Loach. Em seu trabalho, um exilado chileno em Londres escreve uma carta de solidariedade aos parentes dos mortos no atentado, lembrando uma trágica coincidência de datas: foi também numa terça-feira, 11 de setembro, só que de 1973, o golpe contra o governo de Salvador Allende, que culminou na sua morte e na de pelo menos 30.000 civis nos anos que se seguiram, durante o governo do general Augusto Pinochet.
O mexicano Alejandro González Inarritu (de Amores Brutos) coloca a platéia na pele dos soterrados nos destroços, deixando-a no escuro, guiada apenas pelo som de ligações (verdadeiras) de vítimas aos seus familiares e eventuais visões terríveis, igualmente reais, de gente que se atirou das altíssimas janelas dos edifícios em chamas.
Também partiu da realidade a indiana Mira Nair, lembrando o mal-entendido que cercou um jovem de origem paquistanesa radicado nos EUA, Mohammed Salman Hamdani -- que morreu entre os escombros e foi primeiro identificado como terrorista, só depois sendo reconhecido como herói por ter salvado diversas pessoas no local.
O americano Sean Penn compõe poesia pura no conto sobre um velho viúvo (Ernest Borgnine) cujo ritual diário para lembrar a mulher sofre uma modificação radical depois que some de sua janela a gigantesca sombra dos edifícios destruídos pelo atentado.
O africano Idrissa Ouedrago, de Burkina Fasso, conseguiu acender uma centelha de humor, ao contar a história de cinco meninos que julgam ter reconhecido Osama Bin Laden e fazem os mais rocambolescos esforços para capturá-lo e receber a recompensa de US$ 25 milhões.
Fecha o excelente trabalho uma fábula do japonês Shohei Imamura, em torno de um antigo soldado imperial na II Guerra Mundial cuja loucura o faz pensar e agir como uma serpente, e que termina com a frase: "Nenhuma guerra é santa".
A amante de Fidel
O bom nível dos documentários alemães é comprovado por Amado Fidel, de Wilfried Huismann, outra boa atração de domingo. O diretor acompanha o retorno a Cuba de Marita Lorenz, uma alemã radicada nos Estados Unidos, que viveu uma tórrida paixão com Fidel Castro nos primeiros anos após a vitória da revolução cubana.
Marita, que ainda se declara apaixonada pelo líder cubano, teve uma vida digna de Mata Hari. Foi amante de Fidel, abortou um filho dele e foi cooptada pelos órgãos de inteligência americanos para participar de um plano para seu assassinato.
O filme é um verdadeiro painel dos últimos 40 anos na turbulenta relação entre os Estados Unidos e Cuba, com acontecimentos políticos nos quais Marita também se tornou ativa personagem, pendendo ora para o lado americano, ora para o cubano.
Marita tinha 19 anos quando conheceu Fidel. Ela estava num barco alemão, comandado por seu pai, que aportou em Cuba em 1959, logo após a vitória da revolução. Ela se encantou pelo impetuoso e galanteador líder e permaneceu na ilha em sua companhia. Meses depois engravidou, mas diz ter sido obrigada a abortar.
Muito ressentida, acabou concordando em participar de um plano para envenenar Fidel Castro, mas desistiu na última hora. De volta para os Estados Unidos, passou a trabalhar para a CIA e participou de várias ações de espionagem a favor do governo americano.
Mas suas relações com os órgãos de espionagem também foram conflituosas, culminando com seu afastamento.