Na primeira vez em que visitou o Brasil, em 1976, o cineasta austríaco Herbert Brdl, diretor de Eclipse, destaque no Festival do Rio BR 2002, ficou muito impressionado com o rio Negro, na Amazônia. "A visão daquela paisagem me tocou profundamente. Sabia que ia querer voltar", relembra Brdl hoje, em português fluente, outra prova de seu definitivo envolvimento com o país. Língua que, como ele conta, nunca estudou. "Aprendi na rua", explica.
Depois dessa primeira viagem, Brdl voltou várias vezes, para fazer filmes que não foram exibidos comercialmente aqui e, por isso, sequer têm títulos oficiais em português.
Uma das raras exibições de sua seleta filmografia, de que constam seis trabalhos feitos no Brasil, foi em 1998, numa retrospectiva promovida pelo Instituto Goethe no Espaço Unibanco de São Paulo e no Estação Botafogo do Rio.
Com seu novo filme, Eclipse, para o qual filmou pela primeira vez com elenco brasileiro profissional com nomes como Matheus Nachtergaele, Bety Gofman, Paulo Vespúcio e a cantora-atriz Cida Moreira, pode estar a chance para que as platéias nativas finalmente descubram o trabalho deste sincero apaixonado pelo Brasil.
E o melhor de tudo é que a paixão, que Brdl revela até no modo de apresentar as paisagens do rio Negro e arredores, não dá oportunidade, em nenhum momento, a qualquer traço de exotismo.
SET NA AMAZÔNIA
O diretor conta que escalou este excepcional elenco brasileiro através de indicações de algumas pessoas, como de seu amigo de longa data, o pesquisador e roteirista Jean-Claude Bernardet.
Além disso, Brdl assistiu a diversas fitas de filmes brasileiros em vídeo. Foi através de uma delas, O Dia da Caça, de Alberto Graça, que descobriu o ator Paulo Vespúcio, e não através de indicações.
Vespúcio, aliás, foi o primeiro ator a viajar para a região de Barcelos, cidade que fica às margens do rio Negro, porque já queria se ambientar ali antes de a câmera começar a rodar.
Apesar de ser um local bastante isolado e pequeno, onde a cidade tem apenas uma rua principal e o celular não funciona, as filmagens transcorreram sem incidentes.
"Para os atores, foi uma aventura e uma première", define o diretor, já que nenhum deles estivera na Amazônia antes. Bety, inclusive, adotou uma macaquinha, que aparece brevemente em cena junto dela.
SURPRESAS E TRILHA SONORA
Esse tipo de ambiente certamente fascina Brdl. Foi, aliás, numa viagem à ex-colônia portuguesa de São Tomé e Príncipe, anos atrás, que o cineasta descobriu casualmente as ruínas de uma senzala, no meio das quais encontrou uma placa em homenagem ao astrônomo Arthur Eddington.
"Isso me deixou curioso. Encontrar ali, numa ilha em que moram 3.000 pessoas, uma placa para um homem que poucos conhecem e sem o qual Einstein não teria comprovado a Teoria da Relatividade. Era muito irreal", destaca.
Outro aspecto a ser mencionado em Eclipse é a qualidade de sua trilha sonora, composta pelo músico alemão Roman Bunka. Como Brdl, o músico gosta desse contato direto entre mundos muito distintos.
Mesmo morando em Munique, toca um instrumento egípcio, o "ut", e costuma se apresentar tocando-o ao lado de um conhecido astro pop no Egito.
Já o cineasta austríaco, nascido em 1949, divide seu tempo morando em Hamburgo, na Alemanha, e numa região florestal de seu país natal, distante alguns quilômetros de qualquer aldeia. De lá é que, de quando em quando, parte em suas constantes visitas ao Brasil.