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Realismo mágico de Saramago é exibido na tela do Rio BR

Quinta, 03 de outubro de 2002, 16h59

Há um clima de realismo mágico permeando toda a história de A Jangada de Pedra, adaptação cinematográfica do livro homônimo do escritor português José Saramago, dirigida pelo holandês George Sluizer, uma das atrações desta quinta-feira do Festival Rio BR 2002.

A Jangada de Pedra traz uma história rica, personagens multidimensionais, sem contar paisagens estranhas e acontecimentos extraordinários que mudam a vida de um pequeno e muito peculiar grupo de pessoas.

Uma catástrofe dá a partida: a Península Ibérica se separa do continente europeu e vaga pelo Oceano Atlântico, rumando para uma colisão com o Arquipélago de Açores.

Cinco pessoas parecem estar ligadas ao estranho fenômeno da ruptura da península com o continente. Ou assim acreditam muitos dos que temem o que está por vir. O farmacêutico Pedro Orce (Federico Luppi) sente a terra tremer, sensação que ninguém mais compartilha.

O pescador Joaquim (Diogo Infante) foi capaz de lançar uma pedra de peso monumental sem conseguir, no entanto, explicar como. A camponesa Maria (Iciar Bollain) desfaz uma meia e o fio azul que sai dela cresce sem parar, remetendo a um cão que vaga pelas estradas com um novelo de lã da mesma cor.

É o cão, finalmente, que traz à casa de Maria a trupe formada por Pedro, Joaquim, o professor José (Gabino Diego) - eternamente seguido por um enorme bando de pássaros - e a astrônoma Joana (Ana Padrão), que se faz sempre acompanhar de um misterioso cajado.

A situação paradoxal projeta nesse grupo uma união inusitada, em que as relações entre os dois casais, formados por Joaquim e Maria e por José e Joana, sofrem influência das sensações do velho Pedro e do comportamento do cão.

Sluizer consegue recriar em filme a poderosa prosa de Saramago sem traí-la - e já se sabe que o escritor, normalmente arredio a adaptações cinematográficas, aprovou o resultado. Mesmo quem não leu o livro, porém, tem aqui um trabalho artístico digno de atenção.

O diretor consegue manter o clima de estranheza em torno de toda a situação, um símbolo do isolamento da Península Ibérica em relação ao resto da Europa, e capturar o humor e a ironia implacáveis do politizado autor português.

Reuters

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