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Após sua estréia no festival paulistano, o público poderá ver in loco a performance de duas protagonistas que vieram ao Brasil junto com a diretora Gabriel Baur. As três também estiveram no Rio de Janeiro, para o mais recente mostra carioca de cinema.

"Fui dominada pela beleza e pela riqueza cultural, mas ao mesmo tempo pela pobreza do Rio de Janeiro. É um lugar de incríveis contrastes", disse a diretora em entrevista à Reuters por email.

"Muitas pessoas vieram fazer perguntar depois das exibições, mas achei que as platéias não estavam tão cheias quanto poderiam", falou Baur, completando que o motivo poderia ser pelo fato dos documentários não serem tão estimados quanto os filmes de ficção.

"E também, o tema do filme pode levantar espantos em algumas culturas. No Rio, eu senti que as mulheres atendem mais do que em qualquer outro país o estereótipo de beleza clássica feminina."

Rodado ao longo de sete anos, o filme se beneficia da intimidade desfrutada pela diretora com suas atrizes/atores, que, por serem pessoas que ostentam uma dualidade sexual de maneira pragmática, passam muito tempo falando de questões de gênero, performance, papéis sociais e poder pessoal.

"Venuz não é apenas sobre drag kings; isso é só um ponto de partida para desafiar e entender o que faz um homem e uma mulher, o que monta o feminino e masculino e o que extravasa essas categorias binárias".

Ganhador do prêmio de Melhor Filme na Semana da Crítica em Locarno, o futuro de Venus Boyz nos cinemas de arte parece estar garantido, e seu conteúdo sexual radicalmente diferente e espantoso lhe promete uma vida saudável em vídeo.

EXECUTIVA DE DIA E RAPPER A NOITE

Embora a produção passe longe do voyeurismo no sentido pornográfico do termo, seus personagens chamam a atenção obrigatoriamente.

A irreverente Mildred/Dred, que estará presente na primeira exibição do filme em São Paulo, é uma doce e feminina processadora de dados durante o dia e rapper e stripper masculino à noite.

Numa das cenas do filme, ela tira de um saco de malha que traz pendurado entre suas pernas uma maçã, dá uma mordida grande e guarda a fruta parcialmente comida de volta no saco, tudo isso diante de uma platéia que assobia para mostrar sua apreciação.

A drag king pioneira Diane Torr, montada como sua alter ego Danny King, um empresário robusto de meia-idade, discursa sobre os méritos de enchimentos de virilha feitos de algodão ou borracha para um grupo de candidatas a imitadoras de homens que fazem um workshop com ela.

A diretora austríaca, que mudou seu nome de Gabrielle Maria para Gabriel porque queria seu nome como o do anjo, chegou a fazer o workshop com Torr, com o único propósito de pesquisa para o filme.

"Sim, já tive uma experiência de ser drag king por um dia. Descobrir seu próprio alter ego masculino e se ver como um homem foi absolutamente surpreendente e só posso recomendar...", disse Baur.

Enquanto isso, em Londres, De LaGrace Volcano, uma fotógrafa cujas imagens espantosas variam desde estudos da drag king Mo B. Dick dividido pelo meio (mulher do lado esquerdo, homem do direito) até closes de genitália hermafrodita, nos conduz a uma subcultura de "novos homens" que fazem experiências com hormônios masculinos.

Baur recorre frequentemente a artifícios como superimposições e desfocamentos para destacar o que existe em comum entre os meios frequentados por seus sujeitos e seus agrupamentos familiares alternativos.

Além disso, passa muito tempo sobre pontes, cujo simbolismo para pessoas situadas entre os dois sexos é expresso desde cedo no longa e recebe um frisson especial conferido pela presença constante do World Trade Center no horizonte de uma dessas pontes.

Para ver os horários de exibição deste filme, acesse o site da Mostra: https://www.mostra.org