Mais ou menos 10 anos se passaram desde que foi lançado o último longa dramático do alemão Werner Herzog, fato que vem apenas aumentar a decepção provocada por Invencível, que estréia neste sábado na 26ª Mostra BR de Cinema, em São Paulo. » Saiba tudo sobre a 26ª Mostra
Baseado em fatos reais ocorridos na Alemanha em 1932, um ano antes da ascensão ao poder de Hitler e dos nazistas, o filme trata de alguns dos mesmos temas e personagens de Hanussen (1988), de István Szabó, mas de maneira muito menos convincente.
A história de um ingênuo judeu que exibe os músculos em circos e é contratado por um showman fanaticamente pró-nazista precisaria de mais ironia, sutileza e estrutura dramática do que Herzog conseguiu imprimir ao material, e o resultado é que a história, potencialmente fascinante, acaba sendo enfadonha e até mesmo, por momentos, um pouco tola.
As perspectivas comerciais são limitadas, embora a fama do diretor possa ajudar o filme.
Representado pelo halterofilista finlandês Jouko Ahola, em seu primeiro papel como ator, Zishe é filho de um ferreiro judeu e vive com sua grande família, incluindo o irmão menor que o adora, Benjamin (Jacob Wein), num vilarejo no leste da Polônia.
Quando ele derrota um Mr. Músculos de um circo para ganhar dinheiro, é visto por um agente teatral alemão e convidado a ir a Berlim.
Em pouco tempo, é empregado pelo clube de Berlim pertencente a Hanussen (Tim Roth), um empresário do show business que afirma ser de uma família dinamarquesa nobre e é conhecido por simpatizar com o Partido Nazista, que está em rápida ascensão.
Não fica claro em nenhum momento por que o anti-semita Hanussen empregaria um halterofilista judeu, mas em pouco tempo Zishe se vê vestido num uniforme de soldado russo, usando peruca loira e apresentado como Siegfried, um super-homem ariano.
Zishe começa a gostar da pianista do clube, Marta, representada pela pianista clássica russa Anna Gourari, também em seu primeiro papel como atriz.
Infelizmente para Zishe, Marta é amante de Hanussen, que a maltrata. Uma noite, diante de uma platéia quase inteiramente nazista, Zishe revela que é judeu. Quase acontece um tumulto geral na casa, mas, curiosamente, Hanussen decide conservá-lo no emprego - por razão que não ficamos sabendo.
Invencível trata de um período fascinante da história do século 20, mas não o retrata de maneira muito interessante. O filme de Herzog está longe de se comparar com as obras de István Szabó sobre a República de Weimar (Hanussen e Mephisto), e parte do problema é que seu herói ingênuo não substitui o tipo de personagem central que normalmente funciona melhor para Herzog: os obcecados desvairados de Fitzcarraldo e Aguirre, a Cólera dos Deuses.
A falta de experiência de Ahola se evidencia claramente em várias cenas-chaves. Isso deixa Tim Roth, entre os atores principais, responsável por segurar o filme, coisa que o astrofaz com seu costumeiro estilo frio, mas a ausência de seu personagem na tela por longos períodos é um problema que nem mesmo o hábil Roth pode superar.
Com duas horas de duração, Invencível é longo demais e se beneficiaria se fosse extensamente podado. Os valores de produção são sólidos, e a trilha sonora, previsivelmente, é rica e bela.
Para ver os horários de exibição deste filme, vá ao site da Mostra: http//www.mostra.org
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