Não há muito de novo nesta comédia familiar de Ricardo Pinto e Silva, atração brasileira de domingo na 26 Mostra BR de Cinema, sobre um velho mal-humorado que desconta na família suas frustrações. » Leia mais notícias sobre a 26ª Mostra
Baseado na peça Intensa Magia, de Maria Adelaide Amaral, Querido Estranho usa de diálogos ácidos e irônicos para privilegiar o lado humorístico em detrimento da reflexão.
Alberto (Daniel Filho) é um aposentado que insiste em deixar claro seu descontentamento com a vida e a família. Na noite de seu aniversário decide que, mais uma vez, vai atormentar a todos.
O primeiro a chegar é o filho do meio, Betinho (Emílio de Mello), um empresário dominado pela esposa que o pai considera um perfeito fracassado, ao contrário da mais velha, Teresa (Ana Beatriz Nogueira), empenhada na carreira política e adorada por Alberto.
O velho azeda ainda mais os comentários com a chegada de Carlos Alfredo (Mário Schoemberger), noivo que a caçula Zezé (Cláudia Netto) apresenta à família.
A matriarca, Roma (Suely Franco), é a maior vítima das farpas lançadas por Alberto, que não consegue assumir o fracasso pessoal e, por isso, procura culpados e os encontra naqueles que o cercam.
Roma, pilar oposto do embate de Querido Estranho, também não aceita sua condição e, da mesma maneira que Alberto, vive da melancolia nutrida diante da quimera de experimentar um grande amor como o de Sissy, a imperatriz imortalizada pelo cinema.
Em meio ao humor negro que sustenta toda a fita, há frases extremamente cruéis proferidas por Alberto, como a que dirige à mulher: "Sabe o que mais admiro em você? Sua eterna capacidade de ser infeliz".
Esse lado ferino só funciona graças ao excelente trabalho dos atores, encabeçado por Daniel Filho em irretocável interpretação.