Leonor Silveira e Leonor Baldaque estrelam juntas O Princípio da Incerteza, de Manoel de Oliveira, destaque no último Festival de Cannes e uma das estréias de segunda-feira na 26a Mostra BR de Cinema em São Paulo. » Leia mais notícias sobre a 26ª Mostra
Depois do comovente Vou para Casa (2001) estrelado por Michel Piccoli, o prolífico decano dos diretores portugueses Manoel de Oliveira retorna a sua marca própria de drama "literário" com O Princípio da Incerteza.
Baseado num romance de sua roteirista de costume, Augustina Bessa-Luis, e representado por seu elenco costumeiro de atores portugueses, o filme é uma recapitulação do que existe de mais típico nos ambientes, temas e paradoxos de Oliveira.
Numa bela mansão na zona rural, o filho do proprietário, Antonio (Ivo Canelas), e o filho da empregada, José Feliciano (Ricardo Trepa), que atende pelo apelido de Touro Azul, foram criados praticamente como irmãos. Mas, quando chega a hora de se casarem, Camila (Leonor Baldaque), a namorada de infância de José Feliciano, não pensa duas vezes antes de optar pelo rico Antonio.
O Touro Azul começa a namorar a sedutora Vanessa (Leonor Silveira), decadente cafetina de um bordel-discoteca que em pouco tempo tem um caso com Antonio em plena vista de Camila.
Camila afirma não se importar se Vanessa tomar conta de seu marido e sua casa, mas, mesmo assim, se preocupa a ponto de ir pedir conselhos à santa Joana d'Arc. As recomendações que esta lhe faz não são muito católicas, e, na conclusão inesperada, os personagens bons e maus trocam de lugar.
Como em todos os filmes do diretor, a platéia é iludida repetidas vezes por uma enxurrada de diálogos de teor intelectual em tom de brincadeira e que dão voltas e mais voltas ou concluem com aforismos como "a primeira etapa da inteligência é a bondade" e "a civilização ainda não atingiu a primeira etapa da inteligência".
A ótima atriz Isabel Ruth faz a empregada com dignidade irreverente, não se importando em ficar aguardando ao lado da mesa de seus patrões ou ajoelhados a seus pés.
No papel de Camila, o rosto colegial de Leonor Baldaque se mantém ambíguo e inexpressivo enquanto ela se ouve descrita, em diferentes momentos, como anjo, bruxa, madona, interesseira, noiva do Drácula, mutante e "a jóia da família".