A diretora espanhola Chus Gutiérrez arma uma história de amor adulta no cenário conturbado de uma Europa varrida pela xenofobia em Poniente, atração de hoje na 26ª Mostra BR de Cinema.» Leia mais notícias sobre a 26ª Mostra
Lucía (Cuca Escribano) é uma professora que volta à terra natal, a bucólica La Isla, na Andaluzia, por causa da morte do pai. Os dois não se falavam há anos desde que a moça foi morar em Madri, reconstruindo a vida depois da trágica morte da filha mais velha, ainda criança, e do abandono do marido.
Lucía, que tem outra filha pequena, resolve agora permanecer em sua cidade de origem, assumindo o controle da estufa de produção de tomates que pertencia ao pai.
Nesta nova vida, não lhe faltam desafios, como aprender os macetes do negócio, além de enfrentar o gerente que a desrespeita (Antonio de la Torre) e o primo (Antonio Dechent), que a está processando para obter uma parte de suas terras.
A região toda depende do trabalho de imigrantes ilegais, vindos do Marrocos e do leste europeu Europa, mas estes nunca adquirem o status de cidadãos plenos. Primeiro, porque a maioria deles não têm contratos regulares de trabalho, em flagrante conflito com a lei trabalhista.
Sem poder comprovar a renda, não conseguem alugar apartamentos na cidade, sendo obrigados a morar em alojamentos precários e insalubres, verdadeiras favelas feitas de estrados de madeira e restos de plástico, fato que também contribui para a poluição local. Além do mais, os imigrantes são pura e simplesmente discriminados no comércio da cidade.
Equilibrando o filme em dois focos, o dos imigrantes em luta por seus direitos e do romance que surge entre a moça e seu contador (José Coronado), o filme fornece um painel crítico e contundente de uma Europa moderna e intolerante, dividida por conflitos étnicos e onde a presença da extrema direita se faz sentir com renovada força.
O filme foi exibido no Festival de Veneza/2002, na competição paralela Contracorrente. É o quinto trabalho da diretora, que viveu em Nova York, onde realizou seu primeiro filme, Sublet (1981), produzido pelo colega e compatriota Fernando Trueba (Oscar de melhor filme estrangeiro por Sedução-Belle Époque, de 1994).