Vencedor do Festival Rio BR deste ano, o documentário Ônibus 174, de José Padilha, que mostra a violência das ruas cariocas retratando um sequestro verídico, será exibido nesta terça-feira na 26a Mostra BR de Cinema, em São Paulo. » Saiba tudo sobre a 26ª Mostra
O filme relata o trágico sequestro de um ônibus coletivo que resultou na morte da refém e do sequestrador e foi destaque nos noticiários em 12 de junho de 2000.
"Fizemos questão de manter a fidelidade e a cronologia do episódio. O longa começa com o sequestro e a partir dele inserimos depoimentos", explicou Padilha em entrevista recente à Reuters.
"Nossa preocupação (no filme) não é a de apontar culpados nem soluções, mas gerar discussão sobre o tema. Não podemos nos resumir ao ato do sequestro, mas (sim avaliar) o que motiva uma sociedade a agir dessa forma."
Logo no início, um plano aéreo mostra o belo percurso do ônibus que trafegava da Favela da Rocinha, passando pelos cartões postais das praias de São Conrado e Vidigal e pela avenida Niemeyer até chegar ao Jardim Botânico, onde aconteceu a tragédia.
A partir daí, apesar de a história ser conhecida do público, o documentário consegue provocar suspense e nostalgia ao utilizar mais de 70 horas de imagens de TV, além de revelar uma extensa pesquisa com jornais, revistas e notícias de rádio sobre o incidente.
Tudo isso é mesclado ao depoimento do ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais Rodrigo Pimentel, que foi afastado da Polícia Militar por ter se colocado contra a ação policial no episódio que terminou com a morte da passageira Geísa Firmo Gonçalves e de Sandro Nascimento, um dos sequestradores.
A tragédia, que tirou o romantismo do Dia dos Namorados e durou quatro horas, levou a polícia do Rio a ser duramente criticada pela imprensa e pela opinião pública.
Quando Nascimento resolveu se entregar e saiu do ônibus protegido por Geísa, um policial, tentando salvar a refém, atirou na direção do sequestrador. Mas errou o tiro e Nascimento, conforme havia ameaçado, atirou contra a passageira. Um outro tiro acertou Nascimento, que morreu por asfixia a caminho do hospital.
O cuidado do filme em mostrar os dois lados da moeda aparece na entrevista com a tia de Nascimento. Segundo o relato dela, esse menino de rua viu a mãe ser assassinada a facadas quando tinha nove anos e mais tarde escapou de ser morto na chacina da Candelária - uma biografia dura e amarga.
O viúvo de Geísa, Alexandre Magno de Oliveira, fica a cargo de representar sua mulher no filme, enquanto imagens da educadora Damiana Nascimento, hoje com 42 anos de idade, chocam ao demonstrar a real dimensão do ocorrido - ela sofreu um derrame durante o sequestro e não consegue mais falar, sendo capaz de se comunicar apenas por escrito.
Ônibus 174, orçado em 600 mil reais, mostra quanto o sequestro traumatizou os cariocas. O percurso ainda existe, mas o número da linha mudou de 174 para 158.
Para saber os horários de exibição deste filme vá ao site da Mostra: https://www.mostra.org