Dogtown e Z-Boys, uma das principais atrações desta quarta-feira na 26ª Mostra BR de Cinema em São Paulo, é um verdadeiro "flashback" do cotidiano de skatistas do sul da Califórnia em meados dos anos 1970. » Saiba tudo sobre a 26ª Mostra
Erguido sobre entrevistas e muitas imagens de arquivo, a primeira parte do filme - vencedor dos prêmios de melhor direção e melhor documentário no último Festival de Sundance - mostra o local onde é ambientado: Dogtown, um trecho da avenida de beira-mar na zona oeste de Los Angeles e que, num passado ainda mais distante, tinha sido um parque de diversões.
Os restos de instalações dos brinquedos do antigo parque deixavam um trecho do mar especialmente problemático para os surfistas - o que era motivo de orgulho para seus frequentadores munidos de pranchas.
Longe da imagem dos surfistas de classe média transmitida por Endless Summer, o clima em Dogtown era de perigo e bagunça e ali se criava uma série de técnicas radicais de surfe por pura curtição.
Esse estilo radical não passou desapercebido pelos garotos da área, alguns dos quais começaram a imitar em terra firme as manobras feitas na água.
No final dos anos 1960 o skate, que já tinha sido mania nacional nos EUA, estava mais ou menos esquecido, tanto assim que os jovens de West Los Angeles eram obrigados a fabricar seus próprios skates.
Quando dois surfistas "fora-da-lei" abriram sua loja própria de equipamentos feitos sob medida, eles se interessaram - primeiro de maneira "paternal", depois profissional - pelos 12 adolescentes cuja atitude skatista era "urbana hardcore" ao máximo.
Esses 12 chamados Z-Boys (entre eles a garota Peggy Oki) faziam manobras radicais em "ondas de asfalto", desafiando a gravidade e qualquer preocupação com sua segurança pessoal.
A série de ensaios fotográficos que Craig Stecyk fez com os Z-Boys na revista Skateboarder Mag em meados dos anos 1970 os transformou em ídolos da noite para o dia.
Repentinamente afastados dos surfistas - seus mentores -, os Z-Boys, que eram em sua maioria jovens problemáticos de famílias igualmente instáveis, se viram rolando em dinheiro, patrocínios e turnês promocionais. Mas nem todos souberam lidar com esse estilo de vida.
As imagens originais feitas pelo diretor Stacy Peralta, um dos Z-Boys, das manobras assombrosas dos garotos (a maioria realizada durante "ataques guerrilheiros" a piscinas de Dogtown esvaziadas devido à seca, o que as tornava um espaço ideal para a prática do skate "vertical") são um verdadeiro achado. Já as histórias pessoais dramáticas dos protagonistas são contadas de maneira excessivamente superficial.
O próprio Peralta soube utilizar seu status de celebridade para explorar oportunidades de negócios, tanto assim que acabou fundando um império de multimídia esportivo.
Os outros dois Z-Boys mais admirados não se saíram tão bem: Tony Alva, ás das manobras aéreas, desperdiçou suas chances numa sequência de farras e festas, enquanto o "poeta sobre rodas" Jay Adams se perdeu no caminho das "drogas e coisas afins".
No momento, está cumprindo pena numa penitenciária do Havaí - por que crime, o filme não informa.