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Mostra SP: Dolls torna humano o teatro de fantoches japonês

Sexta, 25 de outubro de 2002, 09h33

Reflexão lírica sobre um amor avassalador, escolhas egoístas, perda e abandono, Dolls, um dos destaques desta sexta-feira na 26ª Mostra BR de Cinema, traduz para o âmbito humano a beleza trágica do tradicional teatro japonês de fantoches, o bunraku, com resultados assombrosos.

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Aqui, o idiossincrático diretor Takeshi Kitano às vezes peca pelo excesso de sentimentalismo. Ainda assim, as três histórias entremeadas neste drama exercem impacto cumulativo e sua tristeza comovente é retratada com uma poesia visual meticulosa.

O filme começa com uma encenação do Teatro Nacional de Tóquio de O Mensageiro do Inferno, do autor do século 17 Monzaemon Chikamatsu, sobre amantes malfadados.

Os fantoches de madeira usando figurinos cerimoniais e acompanhados por música e narrativa cantada dão lugar a sucessores de carne e osso: um casal conhecido como "os mendigos amarrados".

Amarrados por um cordão vermelho, eles vagam pelas ruas, parques e campos numa viagem que abrange as quatro estações do ano.

Retrocedendo no tempo, o filme revela como Matsumoto (Hidetoshi Nishijima) cedeu à pressão de seus pais, rompendo o noivado com Sawako (Miho Kanno) para se casar com a filha de seu chefe.

Mas Matsumoto foge da cerimônia de casamento quando fica sabendo que Sawako tentou o suicídio e enlouqueceu. Arrependido, ele se amarra à garota desvairada para garantir sua segurança e eles passam a andar por toda parte juntos, em silêncio.

Na outra história, o velho chefão da Yakuza, Hiro (Tatsuya Mihashi), se recorda com saudades de quando era mais moço. Trinta anos antes ele deixara seu emprego numa fábrica e sua namorada fiel (Chieko Matsubara), prometendo voltar para buscá-la quando fizesse sucesso. Mas ele acabou envolto em sua carreira ilícita e a deixou para trás.

Retornando ao parque onde eles costumavam se encontrar, ele descobre que ela ainda o está esperando, ficando sentada num banco todos os sábados.

A parte final do filme fala de Haruna (Kyoko Fukada), uma popstar de sucesso que vive cercada por legiões de fãs. Desfigurada num acidente de automóvel, ela se isola do mundo e se recusa a ser vista. Ela abre uma exceção para Nukui (Tsutomu Takeshige), um homem também solitário que lhe dá provas drásticas de sua devoção fanática, mas torna-se alvo da inveja de um fã rival.

Os temas de devoção, sacrifício e amor avassalador como ato extremista, insensato e irracional são constantes nas três tramas que o roteiro de Kitano entremeia com precisão.

O clima tristonho se prolonga além dos créditos finais, permitindo que os temas-chaves continuem a ressoar na cabeça dos espectadores.

Reuters

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