O longa de estréia de Alexandre Stockler, Cama de Gato, atração desta segunda-feira na 26ª Mostra BR de Cinema, segue alguns preceitos do movimento Dogma 95, tropicalizando-os no que o diretor paulista batizou de Manifesto Trauma. » Saiba tudo sobre a 26ª Mostra
Como os dinamarqueses liderados por Lars von Trier, Stockler filma nas condições naturais de luz, por isso a imagem é imperfeita, granulada e escura quando a ação se desenvolve em ambientes fechados, e a câmera, trêmula.
Privilegiando uma atuação espontânea e natural, os atores parecem não ter recebido um roteiro prévio e a ação se desenrola livre de controle externo, como numa improvisação coletiva.
Mas as semelhanças param por aí. Se em Os Idiotas, de Lars von Trier, as cenas de sexo explícito caracterizam os personagens em toda sua abjeção, em Cama de Gato o apelo sexual serve apenas para criar polêmica e chocar o espectador.
Numa cena, o personagem interpretado por Caio Blat faz sexo oral numa colega de escola, com um realismo capaz de colocar em dúvida se na longa cena de estupro, praticado logo depois por ele e outros dois amigos, houve ou não penetração.
Cristiano (Caio Blat), Chico (Rodrigo Bolzan) e Gabriel (Cainan Baladez) são três amigos inseparáveis que se envolvem numa espiral de violência que só tende a aumentar pela completa incapacidade do trio em controlar seus atos. Eles não são assassinos por natureza, como no filme de Oliver Stone, mas apenas três garotos mimados de classe média que cometem um crime e se complicam ainda mais ao tentar esconder a autoria.
Cristiano recebe a visita de uma colega, com quem planeja se divertir, sem que ela saiba que seus dois amigos permanecerão escondidos e se apresentarão para um "ménage" quando ela menos esperar. Mas a moça não concorda e acaba sendo estuprada pelos rapazes. Eles perdem o controle da situação e, ao final, percebem que ela está inconsciente.
A mãe de Cristiano chega inesperadamente e o pânico toma conta do filho que tenta impedir que ela suba ao quarto e encontre o corpo da garota. Mas ela se assusta com a aparição repentina de um deles, rola a escada e quebra o pescoço.
Com dois cadáveres em casa, os desastrados amigos se culpam pelo ocorrido e tentam encontrar uma saída para a situação. Eles querem se livrar dos corpos, apagar todos os vestígios que os liguem aos crimes, e ainda encontrar um tempinho para ir a uma festa.
A história chega a parecer cômica por toda sua inverossimilhança. O filme pretende ser uma crítica ao atual estado em que se encontra o país, mas fica apenas na metade do caminho, perdendo-se nos discursos.
Para saber os horários de exibição, consulte o site da Mostra, www.mostra.org.