O documentarista Eduardo Coutinho faz cinema como quem exerce uma ciência, misturando exatas com humanas. É tão fluido e natural o modo como interage com seus entrevistados, mostrando-os soltos e espontâneos na tela como na vida real, que eles falam como se estivessem num confessionário, sem câmera e equipe de filmagem nos bastidores. » Saiba tudo sobre a 26ª Mostra
Mais uma vez, Coutinho consegue esse equilíbrio quase mágico em seu mais recente trabalho, Edifício Master, destaque desta segunda-feira na 26ª Mostra BR de Cinema, onde documenta a vida cotidiana de vários moradores de um prédio do bairro de Copacabana.
Não muito tempo atrás, o edifício era um pardieiro, entregue a marginais e prostitutas. O filme acompanha o seu momento de recuperação, com depoimentos de novos e antigos moradores, que comentam seus sonhos, esperanças, trabalhos e às vezes problemas bastante complexos.
Uma velha senhora conta um dia em que passou momentos de terror com um assaltante que a abordou na rua e a obrigou a subir ao seu apartamento, levando-lhe todas as suas economias, R$ 8 mil.
Um casal de 60 anos conta seu romance, iniciado a partir de um anúncio colocado no jornal. Uma moça de 20 anos admite sem pudores que é garota de programa, ao mesmo tempo que fala de sua depressão e de seus sonhos para a filha de seis anos.
Uma empregada doméstica espanhola nega a crise social brasileira, dizendo que, a seu ver, "aqui não existe pobreza, só preguiça de trabalhar". O porteiro-chefe relata sua emoção ao encontrar um bebê abandonado no prédio, já que ele mesmo foi filho adotivo. Alguns reclamam de falta de privacidade, solidão, medo da violência urbana.
No final de contas, Coutinho mostra um verdadeiro laboratório humano, flagrado pelo olhar solidário e atento do diretor, que não é o mesmo de um padre, um sociólogo, um psicólogo ou um jornalista, mas mistura de todas essas visões. O filme recebeu o troféu de melhor documentário no 30 Festival de Gramado, em agosto de 2002.