Destituído das motivações políticas e sociais que enriqueceram seus melhores filmes, especialmente o último, A Cidade está Tranquila (1999), Marie-Jo e Seus Dois Amores traz o diretor francês Robert Guediguian, de Marselha, em clima terno e sensual. O longa-metragem será exibido nesta noite de segunda-feira em São Paulo, na 26ª Mostra BR de Cinema. » Saiba tudo sobre a 26ª Mostra
A história trata do eterno dilema da personagem que está apaixonada por duas pessoas ao mesmo tempo, o que confere aos membros do elenco padrão do diretor muitas oportunidades para ótimas atuações. A mais notável é a radiante Ariane Ascaride, que faz o papel-título: uma mulher que coloca seu casamento em risco quando tem um caso com outro homem.
Como de costume para o diretor, o drama se desenrola em Marselha, mas o pano de fundo multicultural de seus trabalhos anteriores, com suas tensões raciais inerentes, é quase invisível desta vez.
Marie-Jo (Ascaride), mulher de meia idade mas ainda atraente, vive com seu marido, o construtor Daniel (Jean-Pierre Darroussin), e a filha adolescente do casal Julie (Julie-Marie Parmentier). Apesar de estar apaixonada por Daniel, que é bondoso e gentil, Marie-Jo, que trabalha como motorista de um hospital local, tem um caso com o piloto de navios Marco (Gerard Meylan), que vive sozinho num apartamento.
Marie-Jo consegue viver duas vidas sem que sua família tome conhecimento disso. Ela passa as tardes com Marco, e ele fica deprimido quando ela não consegue vê-lo. O resto do tempo, fica com Daniel, que a trata com grande ternura, mesmo que a paixão já tenha deixado de existir no relacionamento deles.
Mas certa tarde fatídica, quando trabalha sobre o telhado de um prédio próximo ao de Marco, Daniel vê sua mulher, quase nua, na varanda do apartamento de seu amante, e se dá conta da verdade. Mesmo assim, não diz nada, torcendo para que o caso termine sozinho.
Guediguian narra essa história familiar de infidelidade e indecisão com grande ternura. Seus personagens são dolorosamente reais, e ele leva o espectador a solidarizar-se não apenas com o traído Daniel, mas também com o solitário Marco e, especialmente, com a traumatizada Marie-Jo, que, apesar da traição, sofre terrivelmente e só fica realmente feliz quando está fazendo amor com um dos dois homens de sua vida.
Além da bela atuação central de Ariane Ascaride, Marie-Jo e Seus Dois Amores se distingue pelo elenco notável. A produção é bem feita; o trabalho de câmera de Renato Berta cria imagens sensuais de Marselha e redondezas.
Não há música original, e a trilha sonora é composta de trechos de peças de Schubert, Vivaldi e Mozart, além de alguns dos números mais conhecidos de Louis Armstrong e Ella Fitzgerald.