O diretor Raoul Ruiz surpreende o espectador com mais um jogo intelectual e cheio de desvios que compõem Combate de Amor Sonhado. O filme será exibido na terça-feira na 26ª Mostra BR de Cinema. » Saiba tudo sobre a 26ª Mostra
Tão evocativo e enigmático quanto seu título, o longa oferece diversão espirituosa para platéias inteligentes. Mas, pelo fato de prolongar-se por mais de duas horas, sem deixar de ocupar o mesmo plano labiríntico, cheio de caprichos, vai acabar por cansar todos menos os fãs mais devotos do cineasta.
A ausência dos astros internacionalmente conhecidos que atuaram em alguns de seus outros projetos mais recentes (por exemplo Genealogia de um Crime, O Tempo Redescoberto) faz de Combate de Amor Sonhado um produto mais difícil de exportar para mercados estrangeiros de cinema de arte.
As regras do jogo são apresentadas logo no início do filme, com diagrama e seta indicativa, quando um suposto elenco e equipe de filmagens de noticiários chegam a Portugal para fazer uma filmagem, supostamente logo após a 2a Guerra Mundial. Somos apresentados às nove narrativas distintas que vão se atravessar num desenho matemático exato, até sobrar apenas uma.
Essas pequenas fábulas, que evocam As Mil e Uma Noites mas são inspiradas por fontes tão diversas quanto o folclore português, chileno e judaico e os contos de fada de Hans Christian Andersen e os Irmãos Grimm, em pouco tempo se fundem, já quase todas são ambientadas num meio europeu mais ou menos no século 17 ou 18.
Apenas um deles, O Site Profético, tem ambientação urbana atual, tanto assim que seu protagonista descobre que sua sorte está sendo prevista na Internet. Cada história brinca com convenções narrativas clássicas, desde identidades ocultas e intervenções mágicas até a venda de talismãs fatídicos (uma cruz de Malte, um espelho ladrão, um quadro que cura) que reaparecem periodicamente.
A religião católica, furtos, discussões filosóficas, mulheres misteriosas e sensuais (representadas por Elsa Zylberstein e Paula Pais), freiras que lutam e fazem palhaçadas, curiosidades médicas e fugas perigosas são motivos temáticos que pontuam o cenário labiríntico como refrãos musicais que se repetem.