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Mostra SP: Filme de terror de US$ 6 mil usa um único diálogo

Quinta, 31 de outubro de 2002, 14h15

A vida solitária de um homem numa floresta é o ponto de partida para o diretor estreante JT Petty arrepiar os cabelos do público com o filme Fácil de Enterrar, seja pelo tom assustador ou pelo único diálogo de três linhas que carrega em 81 minutos.

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Com um orçamento de míseros 6 mil dólares, Fácil de Enterrar estreou com sucesso no começo do ano no Festival de Sundance, nos Estados Unidos, e será exibido no Brasil nesta quinta-feira, no último dia da 26ª Mostra BR de Cinema, em São Paulo.

"A idéia veio de fazer um filme com o mínimo de diálogos possíveis. Sempre fui um apaixonado pelas partes em que a câmera conta a história", disse Petty em recente entrevista à Reuters.

"Usando poucos diálogos espero fazer o público 'participar' mais. Isso me permite usar um pouco de ambig idade, para que as pessoas assistam às cenas de forma mais ativa, como uma experiência", completou Petty, de apenas 24 anos.

A rotina monótona do Virgil Manoven, o velho da floresta, muda completamente quando numa manhã ele sai à procura de seu gato desaparecido. No caminho, encontra um homem acompanhado de uma garotinha um tanto sinistra, cavando um buraco.

Não se sabe ao certo o que irão enterrar ali, assim como não fica claro o que Manoven realmente viu.

O velho vai, então, atrás do xerife da cidade e o faz procurar pelos suspeitos por toda a região. Nada é encontrado, nenhum dos dois estranhos, nenhum buraco e nenhum corpo.

Começa então a jornada tenebrosa de Manoven em busca de pistas sobre o que de fato aconteceu, saindo do cenário rural para um frio e sujo orfanato, misturando os sonhos de Manoven com a realidade.

A BRUXA E O HOMEM DA FLORESTA

Assim como o independente A Bruxa de Blair, outra produção de horror feita com orçamento pequeno (35 mil dólares), o filme de Petty é o resultado de uma tese de conclusão de curso da Universidade de Nova York e foi rodado nos arredores de uma floresta. Mas as similaridades entre as duas produções param por aqui.

"Eu realmente gosto de A Bruxa de Blair, mas não acho que a comparação seja válida", afirmou. "A Bruxa foi um experimento com a espontaneidade e Fácil de Enterrar foi rigorosamente um exercício de controle", explicou o cineasta, cujo último filme brasileiro que assistiu foi numa retrospectiva do Zé do Caixão.

A Bruxa de Blair acabou virando um 'cult' do gênero do horror, batendo recordes de bilheteria pelo mundo e chegando até a ganhar uma sequência. A produção de Petty, feita há três anos, só conseguiu até agora fechar negócio com uma distribuidora de TV inglesa.

Petty conta que, diferente de Bruxa, ele não precisou pagar seus atores e encontrou nas redondezas de Baltimore restaurantes que serviram comida de graça para toda a equipe, além de locações de acesso gratuito.

"Eles (atores) doaram suas horas para o Contrato de Filmes Estudantis, sob o qual só serão pagos se o filme encontrar um distribuidor", explicou o diretor, completando que rodou em 15 dias, durante o período de férias do Natal, com uma equipe que tinha entre 20 e 22 anos.

Petty já está trabalhando em uma nova produção, também de terror, chamada Mimic Sentinel. Antes disso, ele trabalhou como roteirista de videogames, tendo escrito Batman Vengeance e Tom Clancy's Splinter Cell.

"É um excitante campo para se trabalhar. E ainda há muito o que se fazer para definir como serão as narrativas dos videogames", disse Petty.

"Definitivamente é uma boa experiência para aprender como ser econômico em uma narrativa. É também um ótimo exercício para diálogos."

Reuters

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