O filme brasileiro Cidade de Deus poderá virar alvo de processo. Ailton Batata, único sobrevivente da guerra entre traficantes que arrasou o bairro de Cidade de Deus nas décadas de 70 e 80, pretende mover uma ação contra o diretor Fernando Meirelles e Paulo Lins, autor do livro homônimo.

Batata teve o codinome, Sandro Cenoura, utilizado por Lins e mantido na versão da história para as telas do cinema. José Ronaldo Ferreira Bezerra, advogado de Batata, alega que nem Paulo Lins e nem a produtora O2 Filmes consultaram-no sobre a inclusão de sua história e nome nas obras.

"Batata moverá um processo por direitos autorais. Ele teve sua biografia mercantilizada sem autorização e não é justo ganharem dinheiro com a história dele", afirma Bezerra. Batata foi o único personagem da história que ganhou um nome fictício.

O ex-traficante está preso há 16 anos e ganhará liberdade condicional em breve. "Agora, quando voltar às ruas, ele não terá direito ao esquecimento porque todo seu passado foi relembrado no filme. Batata sempre teve um bom comportamento na cadeia e já pagou à sociedade pelo que fez. Com o filme, no entanto, a reintegração será mais difícil".

Bezerra afirma que os parentes de Batata também sofrem com a repercussão do filme. "O filho dele, de 14 anos, ficou conhecido na escola como Cenourinha. Todos olham para ele e lembram que é filho do traficante de Cidade de Deus. Só que ninguém lembra que isso aconteceu há quase vinte anos e que o pai dele já pagou pelo crime".

Batata assinará os papéis do processo no próximo dia 22. O diretor Fernando Meirelles não foi encontrado pela reportagem do Portal Terra para falar sobre o assunto.

Polêmico - Não é a primeira vez que Cidade de Deus, filme que já levou mais de 3 milhões de pessoas aos cinemas, vira polêmica. Em agosto, Fernando Meirelles e Kátia Lund foram chamados pela Justiça para esclarecer a presença do traficante carioca Paulo Sérgio Savino Magno, o Pequeno, na pré-estréia do longa restrita a convidados.

Os diretores tiveram de explicar como foram realizadas as filmagens no Conjunto Habitacional Cidade Alta, em Cordovil, zona norte do Rio de Janeiro. A polícia queria saber se eles pediram autorização ao comando do tráfico para que pudessem usar a área como cenário de Cidade de Deus.