Um grupo de meninos que mora nas ruas na Cidade do México se sentou durante uma hora para contemplar seu mundo de pobreza e drogas, captado em um documentário exibido em um lar para crianças na capital mexicana. As cenas de grupos de meninos de cerca de dez anos se drogando ao inalar uma mistura de aguarrás, gasolina e solvente não surpreenderam a platéia.
Alguns riram quando um garoto aparece na tela agindo sob os efeitos das drogas, enquanto outros se mantiveram absolutamente indiferentes.
"Queremos agradecer porque você confiou na gente e não achou que a nós iríamos roubar suas coisas e seu dinheiro", disse Francisco Aguilar, menino de rua, à cineasta Eva Aridjis, ao término da projeção.
Aridjis, de 28 anos, estreou no cinema com Niños de la Calle (Meninos de rua) e com o longa recebeu indicações ao prêmio Ariel nas categorias de melhor filme e melhor documentário.
A cineasta, que mora em Nova York, mostrou em 82 minutos a vida de quatro meninos de rua da Cidade do México, onde se calcula que vivem 20 mil crianças desabrigadas. Em todo o país, estima-se que haja 120 mil crianças de rua.
Os protagonistas do longa, Marcos, Erika, Juan e Antonio, aceitaram ser filmados entre setembro e dezembro de 2001, depois de uma série de conversas com Aridjis.
"Espero que as pessoas vejam este filme e se dêem conta de se podemos nos aproximar dessas crianças, conversar com elas e ajudá-las, nem que seja apenas com uma amizade", disse a diretora.
A cineasta dedicou seu filme a Juan Alcántara, um dos protagonistas do documentário, que acabou morrendo antes da finalização do filme, ao 15 anos, por problemas de saúde decorrentes da pobreza e do uso de cocaína.